Doze mortes em 12 dias em Caruaru

A poucos dias da festa de São João, a capital do forró no Agreste pernambucano apresenta um índice assustador de homicídios. Nos 12 primeiros dias do mês de junho, 12 assassinatos foram registrados em Caruaru, o que corresponde a uma morte por dia. A vítima mais recente foi um homem assassinado ontem à noite no bairro das Rendeiras. Na quinta-feira, três pessoas foram mortas em menos de uma hora na cidade. De acordo com dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), 69 mortes violentas foram registradas pela polícia de janeiro a abril deste ano na cidade, 27 a mais que o mesmo período do ano passado.

Violência está assustando moradores da cidade. Foto: Jaqueline Maia/DP/D.A Press
Violência está assustando moradores da cidade. Foto: Jaqueline Maia/DP/D.A Press

Segundo o delegado da divisão de homicídios de Caruaru, Bruno Vital, houve um aumento geral da criminalidade na cidade neste ano. “Em abril, fizemos um diagnóstico da situação porque os números já sinalizavam um aumento nas mortes”, afirmou. “Os assassinatos estão ligados em sua maioria ao tráfico de entorpecentes.”

Ainda segundo a SDS, no ano passado, 900g de crack foram apreendidos em Caruaru entre janeiro e abril. No mesmo período de 2015, foram 3kg recolhidos. Os bairros de Santa Rosa e João Mota são os mais atingidos pelos Crimes Violentos Letais intencionais (CVLIs). A polícia acredita que nessas localidades os crimes estejam sendo praticados por integrantes de uma mesma quadrilha.

Na madrugada dessa sexta-feira, um ex-presidiário foi assassinado a tiros. De acordo com informações da Polícia Militar, Fagner José da Silva, 24 anos, foi atingido por vários disparos na estrada que liga os bairros Agamenon e Alto do Moura. A vítima não resistiu aos ferimentos e morreu na hora. Na quinta-feira, a PM registrou três homicídios em menos de uma hora. O primeiro crime ocorreu na Rua Otaviano Ribeiro, no bairro José Carlos de Oliveira. A vítima, Daniel dos Santos Silva, 31, foi morta a pedradas.

Já na Rua São Cristovão, no bairro Petrópolis, dois adolescentes foram assassinados a tiros. Segundo a polícia, os dois adolescentes aparentavam ter 15 anos.

Os bastidores da cobertura da morte do promotor Thiago Faria Soares

Muitos de vocês estão acompanhando o desenrolar das investigações sobre o assassinato do promotor de Itaíba, Thiago Faria Soares, 36 anos, através da imprensa. Ele foi morto com quatro tiros, na manhã do último dia 14, no Agreste do estado. No dia seguinte, a imprensa pernambucana foi toda para a cidade de Águas Belas, de mala e cuia, onde estão concentradas as investigações. No entanto, o que alguns de vocês não sabem, caros leitores, é como os jornalistas se viram para mandar a notícia para as redações no Recife.

Entrada da cidade dividida pela seca, pelos índios e pelo medo da violência
Entrada da cidade dividida pela seca, pelos índios e pelo medo da violência

Essa postagem vai mostrar um pouco do que nós vivemos durante os dez primeiros dias de cobertura jornalista no local. Debaixo de um sol forte, calor, fome, falta de sinal de telefone e internet. Quase tudo era na base do improviso. Alguns policiais envolvidos na investigação chegavam até a brincar com os jornalistas perguntando se a gente não ficava cansado de estar na porta da delegacia praticamente o dia todo. Foram muitas histórias…

Equipes do Diario e da Folha. O JC já havia voltado para o Recife
Equipes do Diario e da Folha na rodovia PE-300. O JC já havia voltado para o Recife

O trabalho de todas as equipes começava muito cedo, todos os dias. O horário de terminar era sempre uma incógnita. Quem ditava nossos horários eram os acontecimentos do dia. Em geral, na hora do almoço, seguíamos todos para o mesmo restaurante e comíamos quase sempre o mesmo prato. Na hora do jantar, uma lanchonete no centro da cidade era nosso ponto de encontro. Como a oferta de restaurantes e lanchonetes na cidade é pequena, era comum encontrarmos os delegados que investigam o caso comendo nos mesmos lugares que nós.

Não tenho dúvidas de que o produto mais consumido pelos jornalistas que passaram esses dias em Águas Belas foi a água mineral. O calor era muito grande e o sol muito forte. A nossa salvação foi uma lanchonete na frente da delegacia e a recepção da delegacia que tinha ar-condicionado e se transformou também em redação, muitas vezes. Um fato ocorrido na noite da terça-feira, certamente, não vai ser esquecido por quem estava no nosso hotel. Um vazamento de gás fez quase todos os hóspedes desceram às pressas. Algumas pessoas só deixaram o hotel após as luzes terem sido apagadas. Foi um susto danado.

Obs: As fotos que estão publicadas aqui, algumas são minhas e do amigo Paulo Paiva, também do Diario de Pernambuco. Outras, desde já, peço autorização aos colegas dos quais copiei para publicar.

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