Júri do Caso Ponte Joaquim Cardoso recomeça com ouvida de tenente

O segundo dia de julgamento do tenente da Polícia Militar Sebastião Antônio Félix iniciou na manhã desta quarta-feira com o depoimento do réu, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, em Joana Bezerra. O oficial é acusado de comandar um grupo de policiais militares que obrigou 17 adolescentes a pular no Rio Capibaribe, no carnaval de 2006, provocando a morte de dois por afogamento. Antes de ser ouvido, o tenente deu entrevista à imprensa e voltou a declarar que é inocente.

Caso foi publicado com exclusividade pelo Diario em março de 2006
Caso foi publicado com exclusividade pelo Diario em março de 2006

Ontem foram realizado os interrogatórios de oito vítimas das agressões. Após a ouvida do tenente será feito o debate entre acusação e defesa e em seguida a votação dos jurados. A sentença deve sair no final da tarde de hoje. Pela manhã, três sobreviventes prestaram depoimento como testemunhas. Dois deles, presos por envolvimentos em crimes depois que ficaram maiores de 18 anos, foram trazidos do sistema prisional.

Sebastião Félix vai ser julgado no dia 14 de julho. Foto: Wagner Oliveira/DP/D.A Press
Sebastião Félix disse que não comandou ações dos PMs. Foto: Wagner Oliveira/DP/D.A Press

Dona Maria do Carmo Simplício, mãe de Diogo Rosendo, uma das vítimas fatais, acompanhou o julgamento, como também o pai e a mãe de Zinael Souza, outro adolescente que morreu, o policial militar reformado Israel Ferreira e a dona de casa Zineide Maria de Souza. O episódio divulgado com exclusividade pelo Diario na época ficou conhecido como caso Ponte Joaquim Cardoso. No mês de maio, quatro PMs estiveram no banco dos réus. Três deles foram condenados e um absolvido.

À tarde, mais cinco testemunhas foram interrogadas. O conselho de sentença que vai decidir se o tenente é culpado ou não por duas mortes e 11 tentativas de homicídio é formado por quatro homens e três mulheres. O julgamento está sendo presidido pela juíza Fernanda Moura de Carvalho. A defesa do acusado pediu que oito testemunhas fossem ouvidas em plenário. Por esse motivo, houve um pequeno atraso no início do júri. Pois algumas vítimas tiveram que ser pegas em casa e no presídio.

O promotor André Rabelo afirmou que vai pedir a condenação do acusado por duas mortes e 11 tentativas. Durante o início do júri, o promotor pediu à juíza que o acusado fosse colocado no banco dos réus, pois o tenente, que estava com a farda da polícia, estava sentado junto aos advogados de defesa. O pedido foi negado pela magistrada.

Quando a vida dá uma nova chance

Cinco meses e meio de distância foram superados ontem com um forte abraço entre pai e filho. Após ter sido envenenado pela esposa, segundo a polícia do Ceará, e passar dez dias em coma dos 30 que ficou internado o subtenente do Exército Francilewdo Bezerra, 45 anos, finalmente reencontrou o filho caçula, de apenas seis anos.

O menino estava morando com a mãe em Pernambuco desde novembro do ano passado, após a morte do filho mais velho do casal que tinha nove anos. De acordo com as investigações, Cristiane Renata Coelho, 41, colocou chumbinho na bebida do marido e no sorvete do filho, que não resistiu. Ela foi indiciada pelo crime e perdeu na Justiça a guarda do filho.

Francilewdo voltou para o Ceará com o filho de seis anos. Foto: Joao Velozo/ Esp. DP/ D. A Press
Francilewdo voltou para o Ceará com o filho de seis anos. Foto: Joao Velozo/ Esp. DP/ D. A Press

De acordo com o advogado Walmir Medeiros, a sentença da juíza Ana Paula Feitosa Oliveira da 16ª Vara da Família do Ceará que concedeu ao militar a guarda da criança foi publicada na última sexta-feira. “Na segunda-feira, a Justiça emitiu o mandado de busca e apreensão para que a criança fosse finalmente entregue ao pai. Viemos ao Recife e quando chegamos ao fórum a juíza Luzicleide Vasconcelos, que conduziu o caso muito bem, pediu para falar com meu cliente e revelou que o menino estava na sala ao lado”, contou Medeiros. A mãe de Cristiane Renata trouxe o neto para entregá-lo ao pai.

O encontro entre pai e filho aconteceu na manhã de ontem no Fórum Rodolfo Aureliano, em Joana Bezerra. “Chorei muito quando vi o meu filho. Eu não sou de chorar, mas quando eu olhei para ele não tive como segurar as lágrimas”, revelou o militar. O filho mais novo do casal, assim como o mais velho, nasceu com autismo. “Eles tinham graus diferentes de autismo, mas os dois eram autistas. Meu filho ficou um pouco assustado quando me viu devido ao tempo que passou longe de mim, mas logo em seguida ele passou a mão no meu rosto”, detalhou Francilewdo.

Segundo o advogado do militar, Cristiane colocou chumbinho para o filho e para o marido entre a noite do dia 10 e madrugada do dia 11 de novembro do ano passado. “Até hoje ela nega que tenha cometido crime. E o que é pior, tentou incriminar o marido. Ela fez uma carta e postou no Facebook de Francilewdo como se fosse ele escrevendo e assumindo a autoria do crime. Felizmente a polícia descobriu toda a verdade, ela já foi indiciada, perdeu a guarda do filho e deve ter a prisão decretada nos próximos dias”, cogitou Medeiros. A Polícia Civil do Ceará fez o pedido de prisão na última segunda-feira.

Após receber o filho da avó materna, Francilewdo que veio ao Recife acompanhado de uma irmã e do advogado retornou para Fortaleza ontem à noite. O subtenente do Exército ainda chegou a ser autuado em flagrante, mas o caso teve uma reviravolta quando ele acordou do coma e contestou as acusações feitas pela esposa. Depois de duas reconstituições do crime a polícia não teve dúvidas de que Cristiane envenevou o filho mais velho e o marido com o qual foi casada por 12 anos.