Projeto da Polícia Militar muda realidade de jovens da Zona Norte

Promover mudanças nas comunidades e na vida das pessoas que nelas moram. Esse é o principal objetivo do projeto idealizado por policiais militares e que está levando lazer, esporte e música para crianças, adolescentes e adultos de diversos bairros da Zona Norte do Recife. Há um ano, militares do 11º Batalhão da Polícia Militar (BPM) estão mais perto dos moradores e conseguindo, aos poucos, mudar a relação da comunidade com os integrantes da corporação.

Garotos de Dois Unidos e proximidades jogam futebol no campo do Barreirão. Fotos: Peu Ricardo/Esp. DP
Garotos de Dois Unidos e proximidades jogam futebol no campo do Barreirão. Fotos: Peu Ricardo/Esp. DP

Por meio das aulas de ginástica, jiu-jítsu, futebol, instrumentos musicais, taekwondo e outras atividades, as orientações sobre cidadania, educação e melhoria da qualidade de vida chegam às famílias que vivem em localidades conhecidas como violentas. O projeto Amigos do 11º BPM, criado pelo comando do batalhão, está presente em 15 dos 31 bairros atendidos pelo seu efetivo.

Em Dois Irmãos, estudantes treinam jiu-jítsu na Escola Lions de Parnamirim
Em Dois Irmãos, estudantes treinam jiu-jítsu na Escola Lions de Parnamirim

Mais de mil alunos estão inscritos nas aulas ministradas por policiais militares de segunda-feira aos sábados, no horário das 6h às 22h. Os interessados em participar não precisam pagar nenhuma taxa. Basta ter vontade de querer um futuro longe das drogas e do mundo do crime. “No início do projeto, algumas pessoas tiveram receio da presença da polícia nas comunidades, mas hoje a população até gosta e se sente mais segura. A ideia do projeto é ocupar o tempo livre das crianças e adolescentes dessas localidades para que eles não tenham contato com a criminalidade. Durante as aulas eles recebem orientações e se transformam em multiplicadores, levando essas informações até seus familiares e colegas da escola”, destacou o cordenador do projeto, tenente Wellington Araújo.

No Alto da Foice, no Vasco da Gama, grupo estuda música e canto
No Alto da Foice, no Vasco da Gama, grupo estuda música e canto

O trabalho realizado pelos policiais militares pode contribuir para uma mudança de cenário nas estatísticas de violência na área coberta pelo 11º BPM. Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), de janeiro a julho deste ano, 92 pessoas foram vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) na Área Integrada de Segurança (AIS) 5. O número preocupa as autoridades, já que apresentou aumento m relação ao mesmo período do ano passado, quando foram notificados 74 casos de CVLIs na AIS5. “É um trabalho para se obter resultados a longo prazo. O mais importante já está acontecendo, que é a presença da polícia nas comunidades. No bairro de Dois Unidos, por exemplo, não acontece um homicídio há mais dois meses e meio”, apontou o tenente.

Meninos e meninas lotam espaço das aulas de taekwondo no bairro da Macaxeira
Meninos e meninas lotam espaço das aulas de taekwondo no bairro da Macaxeira

Enquanto um grupo de adolescentes jogava futebol no campo do Barreirão, a dona de casa Maria Gomes de Moura, 64 anos, parou ao lado da viatura e parabenizou os policiais que estavam no local. Essa é mais uma vantagem do projeto. Enquanto o professor estiver dando aula, uma viatura com outros dois PMs fica parada na localidade. “Esse trabalho de vocês é muito bonito e importante. Com essas atividades, as nossas crianças ficam longe das coisas erradas e se desenvolvem melhor. Quero parabenizar todos da polícia, pois além de fazer o trabalho de segurança na rua eles ainda ajudam a comunidade”, comentou a dona de casa moradora de Dois Unidos.

Parcerias

Para manter o projeto de pé, é preciso o apoio de algumas pessoas e empresas. É nessa hora que entra em cena o sargento Amiel Alcântara. Com 30 anos de Polícia Militar, dos quais 14 dedicados ao 11º Batalhão, o militar é quem corre atrás dos parceiros. “Já entrei muito nessas comunidades procurando bandidos e fazendo prisões, mas agora é diferente. Estou entrando para trazer coisas boas para as crianças e adolescentes desses lugares. Para isso, nós precisamos contar com alguns parceiros. Para a realização das atividades precisamos de equipamentos e também dos espaços para as aulas. Tudo isso é conseguido através de parcerias. Toda ajuda é muito bem-vinda”, destacou o sargento. O 11º BPM fica na Rua Apipucos, número 15, no bairro de mesmo nome. O telefone da unidade é o (81) 3183-5474.

Entrevista – Gilson Antunes

O projeto Amigos do 11º Batalhão nasceu em julho do ano passado e hoje conta com mais de mil alunos inscritos nas suas atividades. A iniciativa foi avaliada como positiva pelo professor adjunto do Departamento de Sociologia da UFPE e Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Violência, Criminalidade e Políticas Públicas de Segurança (PGS/UFPE). Mas ele faz um alerta para a necessidade de apresentação de resultados do trabalho desenvolvido nas comunidades.

Como avalia o programa realizado pelos militares do 11º Batalhão?
São iniciativas como essas que estão faltando no campo de prevenção da criminalidade. O que se tem atualmente são muitas ações de repressão, mas de prevenção são poucas. O fato de o batalhão colocar os próprios militares para dar aulas aos jovens é muito positivo para promover o estreitamento dos laços de confiança entre a polícia e a comunidade. Em muitos lugares essa relação de confiança já não existe mais.

Que sugestão daria para o melhorar o projeto?
Acho necessário que os responsáveis pelo projeto comecem a apresentar os resultados que estão sendo obtidos. A redução da criminalidade é um bom indicador, mas é preciso entender se está ligada às atividades. Ações de prevenção realizadas com planejamento e organização podem ajudar no combate à violência.

Acha que poderiam ser oferecidas outras atividades no projeto?
Acredito que atividades ligadas à informática deveriam ser oferecidas também. Mas não falo aqui em digitação ou iniciação à informática, mas em relação às mídias sociais. Os participantes do projeto poderiam ser orientados de maneira que pudessem fazer uso do ponto de vista positivo de todas essas mídias, como Facebook, WhatsApp e Twitter, por exemplo.

Insegurança dentro e fora do Parque da Jaqueira

Um dos equipamentos de lazer mais cobiçados da Zona Norte está tomado pelo medo. Não é de hoje que frequentadores do Parque da Jaqueira, localizado numa das áreas mais nobres da cidade, se queixam de investidas criminosas no interior do espaço, como também nas proximidades.

Frequentadores do local estão assustados. Foto: Andre Marins/Esp/DP
Frequentadores do local estão assustados. Foto: Andre Marins/Esp/DP

Caminhar, correr ou utilizar o equipamento para passeios com a família virou sinônimo de medo. Crimes de assaltos são frequentes no local. Em geral, os suspeitos estão armados de facas ou facões e levam os pertences que querem das vítimas. Na última segunda-feira, um adolescente de 15 anos foi o autor de mais um assalto no parque. Um casal de estudantes teve suas bolsas roubadas sob a ameaça de uma faca.

O garoto foi apreendido por policiais militares que faziam rondas na localidade pouco tempo depois e os produtos foram recuperados. Mas nem toda vez o final da história será esse. Os guardas municipais e as câmeras de monitoramento instaladas no parque não têm sido suficientes para inibir a ação dos criminosos. O que se espera daqui para frente é de que a segurança no equipamento seja reforçada. Até lá, é rezar para não ser a próxima vítima.

Bairro da Jaqueira tomado pelo medo

O aumento no número de roubos e furtos registrados nos dois primeiros meses deste ano na Zona Norte do Recife tem deixado moradores e frequentadores de vários bairros assustados. Se em Casa Forte e em Casa Amarela os assaltos estão sendo praticados por homens armados que geralmente estão em carros, na Jaqueira os crimes são cometidos por pessoas que estão em motocicletas ou até mesmo a pé.

Foto: Rafael Martins/ Esp. DP
Assaltos acontecem também no interior do parque. Foto: Rafael Martins/ Esp. DP

No último domingo, o juiz da 10ª Vara Criminal do Recife, João Guido Tenório de Albuquerque, foi assaltado na frente de uma padaria no bairro da Jaqueira. “Nunca imaginei que pudesse ser assaltado de dia, às 9 horas”, relatou o juiz. Ele foi abordado por dois homens numa motocicleta, um deles armado. O crime aconteceu na Praça Souto Filho, conhecida como Praça do Cachorro. “Me ameaçaram de morte e levaram um cordão e minha pulseira de ouro”, contou.

Ao registrar queixa, o juiz João Guido soube que assaltos são comuns não apenas naquela área, mas também na Avenida Rosa e Silva, no Parnamirim, e até mesmo dentro do Parque da Jaqueira. “O policiamento se resume a uma guarita de onde os policiais não podem sair. Os bandidos fazem a festa”, salientou o magistrado, acrescentando que não iria mais frequentar o parque devido à violência. O aposentado Walfredo Dias, 80 anos, costuma caminhar na Jaqueira e disse que já ouviu relatos de alguns assaltos. “Sempre venho no horário da tarde e nunca fui assaltado, mas as pessoas contam que estão acontecendo assaltos por aqui.” Comerciantes do parque dizem que celulares são os objetos mais levados pelos assaltantes.

O comando do 11º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela localidade informou que o policiamento ostensivo no entorno do Parque da Jaqueira é feito pela Patrulha do Bairro, além de policiais a pé. A assessoria de imprensa afirmou que o comandante do batalhão está ciente da denúncia e deixa à disposição dos moradores o número do whatsapp (81) 98722-5712 para que façam denúncias.

Já a Guarda Municipal do Recife, responsável pela segurança no parque, ressaltou que coloca três viaturas a mais nos finais de semana nas ruas do Recife, com quatro homens dentro de cada. A ronda é feita nos pontos de maior movimento da cidade e conta, ainda, com a colaboração das câmeras da Central de Monitoramento.

PMs suspeitos de furtar jovens na Zona Norte do Recife

A Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) está investigando uma denúncia feita por dois universitários e um autônomo de que quatro policiais militares teriam furtado objetos deles durante uma abordagem policial. Segundo uma das vítimas, o fato aconteceu no final da noite dessa quarta-feira, nas proximidades de uma casa de shows na Zona Norte do Recife. Na denúncia, os rapazes afirmam que tiveram um relógio de marca, uma corrente de prata e dinheiro levados pelos PMs.

Suspeitos dizem que PMs estavam em duas viaturas. Foto: Inês Campelo/DP
Suspeitos dizem que PMs estavam em duas viaturas. Foto: Inês Campelo/DP

“Estávamos dentro do carro com a luz interna ligada e falando com algumas pessoas pelo WhatsApp quando os PMs chegaram. Eles estavam muito violentos e afirmaram que nós estávamos consumindo drogas, o que não era verdade. Depois de passarmos mais de dez minutos com as mãos na cabeça e eles revistando o nosso carro, fomos colocados na mala da viatura, o que não poderia ter acontecido. A gente não estava com nada de errado. Nós famos assaltados pela polícia”, relatou o universitário de 19 anos.

Ainda de acordo com as vítimas, as viaturas que os abordaram eram da Patrulha do Bairro do Alto do Páscoal e de Água Fria. “Percebemos que eles tinham levado nossos pertences depois que fomos liberados da mala da viatura e recebemos a chave do carro. Eles tinham dito para a gente não entrar no carro naquele momento, mas entramos e fomos atrás deles. Depois de um tempo, conseguimos anotar as placas e acionamos a Corregedoria da SDS”, detalhou uma das vítimas.

O universitário de 19 anos contou ainda que os quatro PMs foram chamados para prestar esclarecimentos na sede da Corregedoria, que fica na Avenida Conde da Boa Vista, mas que negaram os fatos e que os quatro foram ouvidos todos juntos. “Além disso, o caso aconteceu antes da meia-noite e eles só chegaram na Corregedoria por volta das 4h da quinta-feira”, relatou.

Livros contra a violência

O Alto Santa Terezinha, na Zona Norte, será a primeira comunidade do Recife a receber uma biblioteca-parque, formato criado em cidades como Bogotá e Medellín, na Colômbia, que contribuiu no combate à criminalidade. A implantação, que acontecerá até o fim desse ano, foi um dos assuntos discutidos ontem no I Seminário Bibliotecas Vivas e Comunidades: Criando Espaços de Cidadania Ativa, realizado no Centro de Formação Paulo Freire, no bairro da Madalena.

Foto: Ana Claudia Dolores/DP/D.A Press
Bogotá investe no modelo desde 2006.  Foto: Ana Claudia Dolores/DP/D.A Press

A biblioteca funcionará no Centro Comunitário da Paz Governador Eduardo Campos (Compaz). A obra terá 13 mil metros quadrados e está orçada em R$ 1 milhão em recursos do Tesouro Municipal.

No primeiro semestre de 2016, o serviço passará a ser oferecido no Compaz Cordeiro, com investimento de R$ 5 milhões em uma área de 17 mil m2. “As bibliotecas dos Compaz terão videoteca, informática e outras atividades e as reformadas darão acessibilidade às pessoas”, ressaltou Murilo Cavalcanti, secretário de Segurança Pública do Recife.

Na Colômbia, a primeira biblioteca-parque foi inaugurada em 2006. “Através do modelo, as pessoas podem ler, dançar e participar de várias atividades”, comentou Eliana Maldonado, diretora da biblioteca San Javier, em Medellín. A unidade tem um público leitor de cerca de mil pessoas. O seminário também apresentou o modelo das Bibliotecas do Parque de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e Villa-Lobos, em São Paulo.

Reformas
No Recife, as obras de recuperação e reforma das Bibliotecas Populares de Casa Amarela e Afogados tiveram início em março deste ano.