Renato Casagrande – presidente da Fundação João Mangabeira

“A presença dele é tão forte que parece que ele não faleceu”

 

Rosália Rangel

O PSB foi a porta de entrada para o atual presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande, conhecer Eduardo Campos. O ex-governador do Espírito Santo lembrou que Eduardo entrou no partido em 1990. “Neste ano, ele se elegeu deputado por Pernambuco e eu pelo meu estado”, contou. A eleição estadual foi o ponto de partido para construção de uma relação de amizade pessoal e política. “A política fez com a gente tivesse um compromisso juntos, com posições políticas, mas também fez com que a gente tivesse uma relação fraterna de amizade”, salientou o socialista.
Um ano depois da morte de Eduardo Campos, Renato Casagrande lamenta a perda do amigo e aliado. “É uma sensação diferente porque parece que Eduardo não morreu”, comentou. Ele garante, no entanto, que o legado deixado pelo líder do PSB vai servir de parâmetro para as decisões que o partido terá que tomar sem a presença dele.
“É duro a gente viver sem ele, mas aquilo que ele representou foi tão forte que acaba nos orientando, mesmo ele não estando presente fisicamente”, ponderou. Em entrevista, Casagrande falou sobre a convivência com o ex-governador de Pernambuco, o impacto da morte e a ausência dele no cenário político. Veja abaixo os tópicos da entrevista.

Amizade e política
Fui deputado federal e ele também. Ele se elegeu governador, eu me elegi senador da República. Depois me elegi governador, e ele se reelegeu governador de Pernambuco. Trabalhamos permanentemente juntos e aí começamos a criar uma relação de amizade. Amizade de família. Passei a conhecer a Renata (Campos) e ele minha esposa e meus filhos. Então, a política fez com a gente tivesse um compromisso juntos, com posições políticas, mas também fez com que a gente tivesse uma relação fraterna de amizade. Foi dessa forma que nós construímos nosso relacionamento.

Acidente
Estava na minha campanha de governador, em uma reunião com uma entidade comercial no meu estado, apresentando minha proposta e defendendo a minha campanha de reeleição. Aí comecei a receber informação meio desconectadas. Liguei para o Carlos Siqueira (presidente nacional do PSB) que confirmou o acidente. Ele confirmou não querendo aceitar que Eduardo estava naquele avião. Em um primeiro momento, também chegou a informação que a Renata estava, que outras pessoas estavam. Mas ficaram de confirmar depois e foi nessa hora que recebi a notícia. A confirmação de fato da morte de Eduardo naquele acidente absurdo do dia 14 de agosto de 2014.

Um ano depois
Visitando dias desses a Fenearte (em 2 de julho deste ano), estávamos lá vendo os vídeos das edições anteriores, fotografias e a impressão da gente foi de que a presença dele é tão forte que parece que ele não faleceu, que não morreu. É difícil. É duro para quem militou tanto tempo com ele na política, como um amigo do Eduardo. Eu imagino que seja duro para Renata, para seus filhos conviver com uma lembrança tão intensa, com a presença cotidiana do Eduardo Campos. Mas ele, por estar tão presente espiritualmente no seu legado, no seu exemplo, na sua referência, acaba também servindo de parâmetro para as decisões que nós estamos tomando na vida pública, no partido, no nosso dia a dia. É duro a gente viver sem ele, mas aquilo que ele representou foi tão forte que acaba nos orientando, mesmo não estando presente fisicamente conosco.

História de convivência
São muitas histórias. Eduardo era uma pessoa muito engraçada, um espírito muito alegre. Ele sabia como ninguém contar casos, contar piada, imitar outras pessoas. Nas viagens que a fazia pelo Brasil a fora nas campanhas dos nossos amigos, dos nossos companheiros, as reuniões em Brasília, eram sempre reuniões alegres, engraçadas, espirituosas e, ao mesmo tempo, sérias dos assuntos que a gente estava dialogando no dia a dia.

O país sem Eduardo
O Brasil perdeu muito. Não foi só o partido socialista que perdeu. O Brasil perdeu porque nós não temos muitas lideranças com amplitude nacional. Eduardo conquistou, com a ajuda de todo mundo, com a militância partidária, com a sua capacidade, com a sua competência, uma liderança nacional. Poderia ter sido eleito em 2014 ou não, mas, certamente, seria uma alternativa para nós nos próximos pleitos. Ele seria ouvido pela liderança que conquistou. Poderia ser luz em um momento de tanta dificuldade que a gente está vivendo hoje no país.

As ideias
Quando Miguel Arraes faleceu, a Georgina (sindicalista do movimento dos trabalhadores rurais de Pernambuco) disse que Miguel Arraes não seria enterrado. Seria plantado e que ele daria muitos frutos. Do mesmo jeito nós falamos do Eduardo Campos. O vice-governador (de São Paulo), Márcio França, fala e a gente repete essa mesma manifestação da Georgina. O Eduardo Campos não foi sepultado, ele foi plantado e mesmo não estando presente, as suas ideias continuaram a florescer, frutificar e orientar muitos dos brasileiros e ser a luz do nosso partido.