Cyriaco Rodrigues – motorista de Eduardo em São Paulo

“Ele sempre me falava: ‘Rodrigues, vamos à luta’. Vou chefe. O senhor vai ganhar essa eleição e nós vamos estar na luta”

 

Rosália Rangel

Enquanto trabalhou com Eduardo Campos, o motorista Cyriaco Rodrigues,52 anos, colecionou histórias do tempo que conviveu com o ex-governador de Pernambuco. Absorveu do amigo, que conquistou no ambiente de trabalho, a capacidade de Eduardo de tratar todos com “educação e respeito”, como ele próprio definiu em entrevista ao Diario. No dia 13 de agosto de 2014, Rodrigues aguardava Eduardo na Base Aérea do Guarujá, em São Paulo. Era dele a missão de conduzir o presidenciável do PSB para a agenda de campanha no Guarujá e em Santos, no litoral paulista.

Em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o governador recebeu a reportagem do Diario. Na conversa falou do convívio com Eduardo Campos, das histórias bem-humoradas, do gestor, do político e das ideias do socialista para o país.

Relação de amizade

O conhecimento que tive com ele foi uma relação de amizade e de amigo. Nos tornamos amigos. Ele era uma pessoa que dava muita atenção a todo mundo e sempre tive a maior atenção dele. Ele gostava da pessoa rápida, da pessoa que tivesse horário. Cumprisse o horário exato. Tivesse o horário que ele precisasse.

Trabalho

Começamos em abril e fiquei ao lado dele dia e noite. Só parava quando ele ia dormir e eu também ia descansar. O final foi quando ele saiu para o Rio de Janeiro, na segunda-feira, dia 11. Às 16h30 eu deixei ele na Líder, uma empresa de táxi aéreo de São Paulo, em Congonhas. E ele embarcou para o Rio.

Último encontro

Tive a oportunidade de revê-lo quando ele veio de volta para Santos, no dia 13. Eu estava na base aérea aguardando a sua chegada para alguns eventos que iam acontecer e o avião passou por cima do aeroporto da base área e não retornou mais. Aí já fiquei um pouco preocupado com a demora. De imediato, aí uns 5 a 10 minutos, veio a notícia que tinha caído um helicóptero, mas mesmo assim minha preocupação aumentou. Fiquei nervoso e logo peguei o carro e fui pra Santos. Entre 20 e 30 minutos estava no local, onde já tinha a notícia que era o avião mesmo e que ele que estava no avião do acidente.

No local do  acidente

Naquele momento, eu tentei entrar no local, mas a polícia não deixou mais ninguém entrar. Daí tivemos toda aquela trajetória de preocupação. Corre-corre. As pessoas que estavam vindo. Fui buscar o atual governador de Pernambuco no aeroporto, Paulo Câmara, e voltamos para Santos. Aconteceu o que nenhum de nós esperávamos.

O político

Eduardo Campos ficou na mente de todos nós. Não conheci ele como governante lá (em Pernambuco), mas conheci ele aqui (em São Paulo. Um homem de educação, de respeito com todos. Os quatro anos que conheci pra mim ficou uma lembrança. Não vão sair nunca. Perdemos um presidente porque o Brasil precisava de um homem daquele. Infelizmente não tivemos aquele momento que ia ser o nosso presidente. O presidente do nosso Brasil. Hoje, a gente está com essa crise toda no Brasil, sentindo a falta dele no lugar como presidente para comandar esse país que precisa de um governante como ele. Essa falta que nós sentimos como milhares de pessoas.

Último momento

Foi depois de um evento (em São Paulo) que ele foi experimentar alguns ternos que tinha encomendado na Bela Cintra. Depois seguiu para o aeroporto porque já estava bem atrasado. Saímos e fomos para o aeroporto. Fomos conversando. Cchegou lá, ele saiu do telefone e despediu de mim. Ele entrou no elevador e, quando soltou o telefone, voltou para se despedir de mim. Ele nunca saia do carro sem despedir e dessa vez ele fez isso. Foi uma lembrança dos vários momentos que vivemos juntos e infelizmente não nos vimos mais.

Lembranças

Todos os momentos que estive com ele foram maravilhosas lembranças. Do respeito com as pessoas, pela educação que ele tinha. Uma última lembrança que tenho dele foi quando fomos para Aparecida (SP). Ele e toda família. Quando voltamos ele falou ‘você não gosta de massa né? Mas vá lá comer uma pizza que hoje eu vou pagar’. Não gosto de pizza, de massa nenhuma, mas eu comi duas pizzas, uma salgada e uma doce. Em outro momento, no shopping, ele saiu para comprar alguma coisa, ele e dona Renata, e um senhor pediu para cumprimentá-lo. O secretário que estava junto falou que não porque ele estava ocupado. Fui lá falar com ele. E disse: ‘chefe, chamava ele de chefe, tem um senhor aqui que quer cumprimentá-lo porque o senhor vai concorrer a Presidência’. E ele falou: ‘com certeza. Ele é igual a você. É igual a todo mundo’. Ele saiu do carro e foi cumprimentar o rapaz. Fiquei muito satisfeito por isso. Não esqueço dessa lembrança também pela educação e o respeito. Não como político, mas pela pessoa que ele era.

Saudade
O sentimento é daquela esperança que nós tínhamos de ter um presidente que estava aí batalhando como ele falava sempre “estou na luta hoje”. Ele estaria na luta hoje.  Ele sempre me falava: ‘Rodrigues, vamos à luta’. Vou chefe. O senhor vai ganhar essa eleição e nós vamos estar na luta. Então, no dia 10 de agosto, ele fazia aniversário. Eu ia fazer 52 e ele 50. Eu faço no dia 8 e ele no dia 10. É uma lembrança enorme. Você sente aquela saudade daquela pessoa que estaria com você e talvez hoje estaria resolvendo a nossa crise brasileira com certeza. Hoje a gente tem só sentimento.