Paulo Santos de Oliveira
Paulo Santos de Oliveira é jornalista e escritor. Seu romance de estreia foi “A Noiva da Revolução”, sobre 1817, bem recebido pelo público e pela crítica, e que está para virar filme, nas mãos da cineasta Tizuka Yamazaki. Lançou, ainda, “O general das massas”, sobre Abreu e Lima, premiado pela Academia Pernambucana de Letras. Também coordena o projeto “Pernambuco Libertário”, desenvolvido pela Associação Centro Vivo Recife, que visa a publicação de uma História de Pernambuco completa, em fascículos. E é membro da comissão criada pelo do Governo do Estado para organizar as comemorações do Bicentenário da Revolução de 1817. Convidado pelo Diario para coordenar o Pernambuco, História & Personagens, fala aqui da “desmemoria” pernambucana e dos objetivos deste projeto.
Paulo, em sua opinião, como nós, pernambucanos, vemos o nosso passado?
Já reparou que nos jogos de futebol que assistimos pela televisão, pelo Brasil e pelo mundo afora, aqui acolá aparece alguém agitando a nossa bandeira azul e branca? Ou, então, a tricolor do Rio Grande do Sul? Mas nunca vemos uma bandeira de São Paulo, do Paraná etc. Pernambucanos e gaúchos são, penso eu, os únicos brasileiros que se orgulham das suas origens. A diferença é que eles sabem do quê se ufanam, e nós, aqui, exceto os estudiosos, temos apenas vagas lembranças.
A que isso pode ser atribuído?
Creio que é o resultado do descaso, também histórico, das nossas elites, com a memória local. Já no século XVII o padre Loreto Couto se escandalizava com ele. E até hoje se continua a demolir, sem pena, o que resta do nosso patrimônio arquitetônico.
O que nos falta? Uma boa historiografia? Pessoas e instituições que trabalhem para divulgar nosso passado?
Pelo contrário, a nossa história vem sendo muito bem destrinchada por Oliveira Lima, Evaldo Cabral de Melo, Amaro Quintas, Denis Bernardes, Socorro Ferraz, Carlos Guilherme Mota e outros estudiosos de altíssimo nível. O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, a Academia Pernambucana de Letras e os museus do Estado e da Cidade do Recife também têm feito as partes que lhes cabem. Jornalistas como Leonardo Dantas e ficcionistas como Luzilá Ferreira e Maria Cristina Cavalcanti, idem. Políticos como os deputados Terezinha Nunes, Fernando Ferro e Maurício Rands, também. O Diário de Pernambuco está lançando este projeto. E o Governo do Estado, que o apóia, criou, muito oportunamente, a Comissão Organizadora do Bicentenário da Revolução de 1817. A carência é secular e muito grave, mas se outros, principalmente os educadores, também se dispuserem a enfrentá-la, quem sabe ela não é suprida? E o Bicentenário certamente ajudará, neste sentido.
Por fim, o que espera desse projeto?
A memória popular –– ou “o que anda nas cabeças e anda nas bocas”, como se dizia antigamente –– da História de Pernambuco, é um tesouro ainda oculto, uma espécie de “botija”. Espero que este trabalho ajude a desenterrá-la.