Um banho com mais dignidade
ONG Projeto Missão Solidária pretende criar um ônibus com banheiros para que moradores de rua possam tomar banho com privacidade
O banho de Fábio pouco tem de humanidade. Tal qual bicho, ele adentra um bueiro por onde passa uma tubulação perfurada. Apossa-se de uma mangueira improvisada e começa a ensaboar o corpo sobre a roupa usada ao longo do dia. Porque em público, o banho não tem privacidade, nunca é completo. É arranjo. Como toda pessoa em situação de rua, Fábio Rodrigo da Silva, 30 anos, não tem direito a banho digno. Pessoas como ele lavam-se em fontes e lagos de praças, canos rompidos, banheiros públicos.
Fábio é maranhense, mas foi parar nas ruas do Recife porque não conseguiu um emprego e ainda foi roubado enquanto dormia na Praça do Derby. Está nessas condições há um mês. “Em primeiro lugar está a comida e a roupa. Mas sem banho não dá para ficar. Tomo todo dia”, conta. Marcelo Hortêncio de Lima, 29, paraibano e companheiro de rua, concorda. “Também procuramos o Parque 13 de Maio e a Cristolândia, onde tem café, banho e almoço”, diz, referindo-se a uma missão da Igreja Batista, na Boa Vista. Fábio e Marcelo vivem na Praça Maciel Pinheiro.
Pedro Cavalcanti é advogado. Faz parte da ONG Projeto Missão Solidária (Prosol). Dia desses, presenteou Luiz Severino da Silva, 54 anos, sendo 49 nas ruas, com uma toalha verde. Luiz ficou feliz. Assim como outras pessoas em situação de rua, faz o que pode para ter o corpo limpo. “Vou no banheiro de Jarbas, mas lá só funciona de manhã. Pago R$ 1. Não dá para ir todo dia”, diz, referindo-se a um espaço público localizado, segundo ele, na Avenida Dantas Barreto. Pedro e outros voluntários do Prosol pensaram em uma ideia para aliviar a situação dessas pessoas. Querem criar um ônibus com oferta de banho.
O veículo ainda não existe, mas é inspirado em ações semelhantes, como a internacional Lava Mãe, da Califórnia, e o Banho Saudável, da Bahia. “O da Califórnia oferece também ações de cidadania, como acesso a documentos e saúde. Ele é nossa grande inspiração. O da Bahia, além do banho, oferta o jantar”, explica Morgana Lima, também voluntária.
O Prosol foi escolhido para ser incubado no Porto Social durante um ano. “Queremos sair de lá com capacidade para conseguir emplacar o projeto, colocar em prática no próximo ano. A ideia é levar o ônibus para as ruas três vezes por semana. Aparentemente é uma ideia simples para as pessoas que têm acesso à higiene na rotina. Mas um banho é o mínimo de dignidade que alguém pode ter”, completa Pedro.
Enquanto o ônibus não chega aonde o morador de rua está, a Prefeitura do Recife disponibiliza dois espaços para as pessoas tomarem banho: os centros Pop Glória, na Rua da Glória, 459, na Boa Vista, e o Neuza Gomes, na Rua Cândido Lacerda, 364, no Torreão, das 8h às 17h.
Aparentemente é uma ideia simples para as pessoas que têm acesso à higiene na rotina. Mas um banho é o mínimo de dignidade de alguém pode ter.
Fábio Rodrigo toma banho no meio tarde, enquanto os transeuntes passam pela calçada – Foto: Rafael Martins/ DP
Olá, boa noite!! Muito importante esse projeto do banho para moradores de rua. Eu sou de São Paulo, e gostaria de implantar um projeto de banho para os moradores de rua da Zona Leste. A minha ideia é fazer uma unidade móvel não do tamanho de um ônibus,mas algo menor, que dê para 30 a 40 banhos. Vcs ainda atuam com o ônibus? Têm alguém que preparara a carroceria e o equipamento para banhos? Grato!