Vitória Helena do Nascimento, 15 anos, deixa, por seis meses, a Comunidade do Chié, em Campo Grande, no ano que vem. Seguirá para o Chile depois de ser beneficiada pelo Programa Ganhe o Mundo Musical. Vitória nunca frequentou uma escola de música de referência no estado. Tudo o que aprendeu sobre tal arte veio de um espaço sem grandes pretensões, dentro da Igreja Batista em Campo Grande. A iniciativa vem rendendo frutos valiosos e precisa de ajuda de voluntários para continuar. Ao todo, 200 crianças e adolescentes participam hoje das aulas de iniciação musical e da Orquestra Filarmônica Cristã de Pernambuco.
O projeto começou, em 2007, com a escolinha. Três anos depois, a igreja conseguiu a doação de cem instrumentos musicais da Indústria Farmacêutica Hebron. Foi o pontapé para a formação da orquestra. As aulas e ensaios acontecem nas terças e quintas-feiras, das 18h às 21h30. Atende pessoas na faixa etária dos 6 aos 17 anos. Para participar, é preciso que estejam matriculados em uma escola e tenham interesse em aprender um instrumento. A maioria dos alunos são crianças muito pobres dos arredores da igreja.
“Queria que minha filha ocupasse a cabeça com alguma coisa, além da escola tradicional. A comunidade não tem muito a oferecer às crianças”, diz Joselma do Nascimento, 45, mãe de Vitória. “Antes eu era mais fechada, não saia de casa. Depois da música, mudei”, conta Vitória. Para Edjane Ferreira da Silva, 36, o papel da escola e da orquestra são fundamentais para os moradores mais jovens do Chié. “O bom é que não é uma atividade somente de lazer, para distrair. As aulas de música ensinam algo para nossos filhos”, reflete a mãe dos gêmeos Mateus e Felipe, 9, aprendizes de bateria.
Hoje a iniciativa é bancada totalmente pela igreja. Por mês, custa R$ 3 mil. Os professores de música, ao todo 17, são voluntários. “Precisamos de patrocínio para fazer a manutenção diária dos instrumentos, bancar lanche, passagens, muitas vezes vestuário e necessidades básicas das famílias dos estudantes”, relata o maestro Marcelino Monte, 37. Ele sugere, inclusive, o apadrinhamento de crianças para ajudar a tocar o projeto. A iniciativa foi uma das 50 escolhidas pelo Porto Social para ser incubada e receber capacitação em diversas áreas, incluindo captação de recursos. Atualmente, a escola de iniciação musical está com 30 vagas para crianças entre 6 e 11 anos.
João Antônio do Nascimento, 13, também mora no Chié. Conta não desejar fazer parte das estatísticas de violência na comunidade, a mesma que vitimou dois de seus irmãos e seu pai. “Não quero o caminho do mal. Quero ser alguém na vida”, desabafa.
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