Somente com o advento da República as religiões afro-brasileiras começaram a abrir caminho para sua institucionalização. Mas mantidos os mecanismos de exclusão social, negros libertos e a massa urbana criaram soluções próprias para sua organização religiosa.

O calundu trazia a magia negra;
os portugueses, a magia católica

O calundu não se organizava apenas através das festas que aconteciam junto ao calendário festivo dos católicos. O aspecto íntimo e mágico, que é característico do candomblé e das religiões de matrizes africanas, já existiam no seu antecessor colonial ­principalmente através dos jogos de adivinhação e de trabalhos de cura. Entretanto, enquanto as festas eram toleradas, esta parte mágica era fortemente reprimida.

Foto: Victor Germano

Foto: Victor Germano

Para a antropóloga da Fundaj Rosalira Oliveira, essa perseguição se liga principalmente à necessidade da Igreja Católica diferenciar o que era a “magia divina”, que seriam os milagres, da magia demoníaca. “A magia africana, indígena e mesmo europeia foi muito perseguida por que o catolicismo era mágico também. Cheio de medalhinhas e benzeduras, etc. Então, o próprio catolicismo precisava traçar esta linha”, completa, lembrando que um dos maiores contestadores dessa magia católica foi o monge agostiniano e precursor do evangelicalismo Martinho Lutero.

Essa situação perdurou durante os primeiros séculos da história do Brasil, começando a mudar somente a partir do período imperial. Com a urbanização decorrente da vinda da família real para o Brasil, os diferentes cultos afro­brasileiros começaram a aflorar ao longo do país a partir de meados do século XIX. Em 1831, é fundado o Candomblé da Barroquinha, em Salvador; em 1840, a Casa das Minas, em São Luis; em 1875, o terreiro do Pai Adão, no Recife. Entretanto, foi só com o advento da República que os cultos de matrizes africanas encontraram espaço para sua institucionalização.

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