Um mercado nada santo
Na prática, o que acontece é quase como uma briga de mercado. Habitando o mesmo espaço urbano, igrejas evangélicas e terreiros são ocupados por uma população socialmente semelhante. “Eles disputam o mesmo público e estão nos mesmos lugares”, diz Rosalira. Para ela, as denominações neopentecostais vão num caminho semelhamento ao que a Igreja Católica fez durante a Inquisição para se legitimar. “Voltamos à necessidade de diferenciar o milagre, ou seja, a magia do bem, da ‘magia diabólica’. Voltamos a esse ponto e não é a toa, por que como é fundamentalista, você volta mesmo no tempo”, comenta a antropóloga.
As denúncias de intolerância vão desde casos de difamação até agressões mais sérias, como destruição de terreiros e até apedrejamentos, atitudes quase sempre negadas pelos neopentecostais. Para o Pastor Bruno, diretor da TV Universal no Recife, as denúncias dos povos de terreiro são infundadas. “O que foi provado?”. Segundo o pastor, “essa coisa de intolerância já passou” e isso pode ser visto na própria forma como a Universal está sempre aberta a novos adeptos. “Nós aceitamos todos da mesma forma, não há distinção. Para nós, não importa a forma como você se veste, nos importa a alma. Por isso nós tratamos todos da mesma forma”.
Para ele, a demonização das religiões de matrizes africanas é uma coisa que parte delas mesmas. “São eles que falam. Veja: por que se faz uma macumba? Para coisas ruins. Para fazer mal, para provocar uma doença, para matar alguém. Eles evocam uma pombagira. Uma pombagira não é um anjo, é um espírito mal. Aquilo é mal, não somos nós que falamos”, defende Bruno.
Para o presidente da Associação Brasileira de História das Religiões, Eduardo Meinberg, de fato “a maior parte dos ataques a terreiros de religiões de matriz africana e afrobrasileira tem sido realizada por igrejas ou por adeptos de igrejas pentecostais e neopentecostais”. Entretanto, Meinberg aponta a importância de não ser reducionista, pois “há evangélicos com as mais diversas concepções religiosas e sociopolíticas que contribuem para a obstacularização da onda de intolerância e fundamentalismo que cresce exponencialmente no Brasil”, ressalta.
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