Estratégia é tentar levar sigla com mais recursos e maior tempo de TV para a campanha à reeleição do presidente
O Governo Bolsonaro age para forçar o presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), a retirar o partido do grupo que tenta tornar viável um candidato da terceira via na eleição presidencial. A ala governista da legenda tem recebido sinais de que perderá cargos, caso seja oficializada a aliança com MDB, PSDB e Cidadania. O recado partiu da Casa Civil, comandada pelo ministro Ciro Nogueira.
O líder do União Brasil na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), é hoje o principal articulador da candidatura de Bivar, independentemente do time da terceira via. O objetivo dele, porém, é evitar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) perca votos para o grupo que se autointitulou “centro democrático”. A ideia é levar o União Brasil, que tem quase R$ 1 bilhão de recursos dos fundos eleitoral e partidário, além do maior tempo de TV na campanha, para apoiar o projeto de reeleição de Bolsonaro.
Elmar Nascimento tem muito a perder em eventual rompimento com o governo. Ele controla a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), considerada a “estatal do Centrão”. Interlocutores dos quatro partidos do bloco disseram que o deputado já foi avisado de que perderá influência na companhia.
É de Elmar a indicação de Marcelo Moreira Pinto para a presidência da Codevasf, empresa na qual o orçamento secreto ganhou mais evidência, em troca de apoio político para o governo. O esquema foi revelado pelo Estadão. O deputado também chegou a indicar o irmão, Elmo Nascimento, para a superintendência de Juazeiro (BA). Hoje, o cargo é de um outro aliado, José Anselmo Moreira Bispo.
A superintendência de Bom Jesus da Lapa (BA) é do correligionário Arthur Maia (BA), que apadrinhou Harley Xavier Nascimento. Maia acaba de ser eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, substituindo a bolsonarista Bia Kicis (PL-DF).
Deputados de perfil governista, Maia e Elmar protagonizaram a debandada no antigo DEM na disputa para a presidência da Câmara, no ano passado. Numa virada, passaram a apoiar Arthur Lira (Progressistas-AL), que ganhou a eleição com apoio de Bolsonaro.
O episódio deixou mágoas e desconfiança até hoje. Na ocasião, esse grupo acabou por enfraquecer a candidatura do deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, que contava com apoio não só do DEM, mas de outros partidos que agora tentam construir a chamada terceira via, como PSDB e Cidadania.
Formado a partir da fusão do DEM com o PSL, o União Brasil é o partido ao qual o ex-ministro e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, se filiou, após deixar o Podemos. Moro chegou a ser lançado pré-candidato à Presidência da República pelo antigo partido, mas não conseguiu decolar. Agora, seu futuro político ainda é incerto.
O nome do próprio Bivar foi apresentado como opção para o grupo da terceira via, mas tudo indica que o União Brasil caminha, agora, para uma jogada própria. Os outros pré-candidatos do grupo são o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também do PSDB, corria por fora, mas recuou. Todos esses nomes, no entanto, registram desempenho pífio nas pesquisas de intenção de voto.
Enquanto isso, porém, o Planalto continua na ofensiva sobre Bivar e Antônio Rueda, outro homem de confiança do governo no União Brasil. Assim que assumiu posição de destaque no comitê do pai, após a filiação ao PL, Flávio disse que o União Brasil era um dos partidos que tentaria atrair para a órbita de aliados do presidente. A resistência, porém, continua sendo de políticos como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, secretário-geral do União Brasil e candidato ao governo da Bahia. Elmar também é muito ligado a Neto. Nos bastidores, parlamentares do União Brasil já tinham sinal verde de Bivar para apoiar Bolsonaro e candidatos dele nos Estados.
Reprodução: Estadão