Por AFP
A eleição presidencial no Brasil será definida no segundo turno, em 30 de outubro, depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentar neste domingo (2) um desempenho surpreendente frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que liderou por uma estreita margem.
Ao final de uma apuração disputadíssima, na qual Bolsonaro abriu vantagem de até sete pontos, que foi diminuindo a conta-gotas, os resultados situaram o ex-presidente Lula com 48,15% dos votos, frente a 43,44% para o presidente Bolsonaro apuradas 98,79% das urnas.
Os principais institutos de pesquisa tinham previsto uma ampla vantagem para Lula havia meses e inclusive tinham antecipado a possibilidade de que o ex-presidente vencesse já neste domingo sem a necessidade de um segundo turno em 30 de outubro.
No entanto, Bolsonaro resistiu e obteve um resultado no qual apenas seus apoiadores acreditavam. Enquanto isso, Lula, que inclusive tinha reservado a Avenida Paulista para comemorar a vitória em grande estilo, agora terá que disputar cada voto.
“Os resultados de hoje vão forçar Lula a cortejar os eleitores de centro e, inclusive, os conservadores de forma mais agressiva nas próximas quatro semanas”, disse em um tuíte Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.
Apoio a Bolsonaro
Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, de 67 anos, concentrou sua estratégia de campanha nos valores morais (“Deus, pátria, família”), um discurso patriótico e ataques a seu adversário, a quem chama de “ladrão” e “ex-presidiário”.
Ele mantém um apoio sólido entre o eleitorado evangélico, que representa um terço do eleitorado, o agronegócio e os setores populares que não perdoam o Partido dos Trabalhadores de Lula pelos escândalos de corrupção.
Bolsonaro atacou durante seus comícios as pesquisas: assegurou que a temperatura eleitoral deveria ser tomada nas ruas, e que neste caso venceria com folga. Há duas semanas, disse que seria “anormal” caso não vencesse por 60% no primeiro turno.
Seu mandato foi marcado pela gestão turbulenta da pandemia, que deixou 686.000 mortos, um avanço da pobreza e da fome, níveis recorde de desmatamento na Amazônia, suspeitas de irregularidades rondando sua família e aliados, e ataques contra as instituições judiciais e a imprensa.
Por sua vez, Lula, de 76 anos, contava em conquistar já no primeiro turno um terceiro mandato, apoiado pelas classes populares, as mulheres e os jovens, após ter governado o país entre 2003 e 2010, e ter deixado o poder com um invejável índice de popularidade.
Mas Lula não conseguiu superar aos olhos de boa parte da sociedade a mácula da corrupção. Foi sentenciado e depois obteve a anulação de suas condenações por motivos processuais na operação Lava Jato, que investigou um esquema de propinas na Petrobras.
No centro do Rio, Viviane Laureano da Silva, servidora pública de 36 anos, mostrou-se confiante em que Lula vai vencer no segundo turno. “A campanha vai ser difícil, mas ele ganha. Sou da periferia e vejo como povo lá apoia o Lula”, disse à AFP após a divulgação dos resultados.
Caso seja eleito, Lula promete combater a fome no Brasil, tirar o país de seu isolamento diplomático e pôr fim à sua imagem de “pária” ambiental, devido ao desmatamento maciço da Amazônia, durante o governo Bolsonaro.
Cerca de 156 milhões de eleitores também votaram neste domingo em deputados para a Câmara Federal, um terço do Senado, além de governadores e deputados estaduais nos 26 estados e no Distrito Federal.