Foto: Carlos Villa Verde/ALAL

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Por Vinicius Doria e Marcos Braz/Correio Braziliense

A Polícia Federal deflagrou, ontem, a Operação Edema, que investiga um suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa de Alagoas. O principal alvo é o governador-tampão do estado e candidato à reeleição, Paulo Dantas (MDB). A ação da PF e do Ministério Público Federal (MPF) foi autorizada pela ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ela determinou o afastamento de Dantas do cargo de governador por 180 dias, mas não o impediu de manter a campanha eleitoral do segundo turno, na disputa contra o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), apoiado pelo Palácio do Planalto e pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP).

Foram cumpridos 31 mandados de busca e apreensão na casa do governador, em gabinetes da Assembleia Legislativa de Alagoas e do Palácio República dos Palmares (sede do governo estadual), além de um hotel em São Paulo, no qual Dantas estava hospedado. Foram apreendidos com ele R$ 14 mil em dinheiro, além de R$ 100 mil em outros endereços ligados ao governador. Laurita Vaz determinou, ainda, o sequestro de R$ 54 milhões em bens e valores dos investigados.

Dantas considerou a operação “encenação” e “teatro”, e avisou que “o recurso judicial será firme”. Os partidos coligados na chapa do governador — MDB, PT, PCdoB, PV, PDT, PSC, Podemos e Solidariedade — assinaram nota conjunta na qual declaram que “o dia 11 de outubro ficará marcado na história brasileira como o maior ataque feito contra um governador legitimamente eleito, vencedor do primeiro turno com ampla vantagem e líder absoluto nas pesquisas”. Para os partidos, “o que os últimos fatos indicam é uma tentativa de vencer a disputa na base do golpe”.

Pesquisa divulgada, ontem, pelo Instituto Real Time Big Data mostra Dantas com 47% de intenção de voto (59% considerando apenas os votos válidos, em que se excluem brancos, nulos e indecisos) e Cunha com 33% (41% dos votos válidos).

“Armação”

A disputa do governo em Alagoas reflete a polarização da disputa nacional, em que o atual governador e o presidente da Assembleia Legislativa são ligados ao grupo de Renan Calheiros, apoiador do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O senador acusa o governo federal de interferir na PF para prejudicar adversários políticos no estado e já havia apresentado denúncia ao Tribunal Superior Eleitoral, na semana passada, sobre outra operação policial ocorrida no início do mês.

Calheiros, inimigo do presidente da Câmara, acusou, pelo Twitter, que o processo contra Dantas chegou ao STJ por “uma armação de (Arthur) Lira”. Anunciou, ainda, que apresentará queixa no Conselho Nacional de Justiça contra Laurita Vaz. Segundo o senador, o processo “foi parar no STJ por uma armação de Lira e lá perambulou por vários gabinetes até parar na mão da bolsonarista Laurita Vaz”.
Lira também tuitou em resposta a Renan. Disse que “toda vez que ele é apanhado praticando malfeito me acusa para tentar encobrir suas safadezas”. Segundo o deputado, “foi o STJ que viu fortes indícios de corrupção e determinou o afastamento do governador”.

A investigação, que tramita em sigilo desde 2019, investiga crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Nenhum dos alvos teve os nomes divulgados pela PF ou pelo MPF.

Um dia antes da deflagração da operação contra Dantas, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes, enviou à PF um pedido de informações sobre outra ação da corporação — contra o presidente da Assembleia Legislativa alagoana, Marcelo Victor (MDB), na véspera do primeiro turno das eleições. Suspeito de participar de um suposto esquema de compra de votos, o deputado foi abordado em um hotel por agentes federais que cumpriam mandados de busca e apreensão. Moraes deu prazo de 48 horas para que o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas também preste informações.

A decisão de Moraes atende a pedido feito por Renan. No documento encaminhado ao TSE, na semana passada, o senador levanta a suspeita de interferência de Lira “a fim de causar prejuízos eleitorais ao referido candidato, com a produção de notícias que sabe ser inverídicas”.

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