Foto: Marina Ramos/ Câmara dos Deputados

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Por: Raphael Felice e Victor Correia/Correio Braziliense

O deputado Arthur Lira (PP-AL) tem tudo para ser reeleito, na quarta-feira, presidente da Câmara com uma larguíssima margem de votos — seu adversário, Chico Alencar (PSOL-RJ), reúne chances praticamente nulas, apesar de seu partido fazer parte da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não contar com o apoio do Palácio do Planalto para ocupar a cadeira que é a terceira na linha de sucessão da República. Lira só não será eleito por aclamação por uma questão meramente numérica, uma vez que conseguiu reunir em torno da sua candidatura desde o bolsonarismo radical às legendas que fazem parte da base parlamentar do governo. Nada menos que 20 bancadas fecharam com a reeleição.
Os detratores de Lira o consideram um Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara) com mais verniz, uma vez que enxergam nele sutilezas que o ex-deputado fluminense não tinha. Os adversários, porém, o qualificam muito habilidoso e, portanto, mais perigoso do que Cunha. Chico Alencar vaticinou, na semana passada, que Lula se arrependerá por ter ajudado a reeleger Lira. Choro de perdedor ou não, só o tempo dirá. Fato é que o presidente da Câmara jamais escondeu que aprendeu muito com a proximidade que tinha de Cunha.

Lira foi um esteio para o governo Bolsonaro, mas soube cobrar por isso. Conseguiu manejar o orçamento secreto, derrubado pelo Supremo Tribunal Federal, e viu na decisão da Corte o dedo do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva — com quem, dias antes, se acertara. Sentindo-se ultrapassado, tentou obter mais espaço no governo que estava para assumir e, segundo os bastidores, queria nada menos que o Ministério da Saúde. O cabo de guerra entre eles fez com que o ministério demorasse a ser fechado.
O presidente da Câmara, porém, sempre soube onde estava pisando. Estava no lançamento da candidatura de Jair Bolsonaro para a reeleição, mas foi a primeira autoridade do Legislativo a reconhecer a vitória de Lula, apesar de, ao longo da corrida presidencial, ter feito poucos gestos (nem sempre muito claros) em defesa das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral — nesse aspecto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi mais enfático. Já ali deixou claro que Jair Bolsonaro era página virada.
O deputado foi um importante ator na aprovação da Proposta de Emenda Constitucional da Transição. Conseguiu cerca de 90 votos e a PEC passou com 331 nos dois turnos de votação. Como entregou aquilo que havia ajustado com Lula, sacramentou o apoio da base governista e pavimentou o caminho da reeleição.

Prudência

O PT cogitou, logo depois da vitória em 30 de outubro, lançar um candidato para tentar fazer frente a Lira, por conta do alinhamento que o deputado tinha com Bolsonaro. Mas pesou o fato de Lula, apesar do arco de alianças feitas na disputa presidencial, não ter uma base capaz de confrontar Lira. O fantasma de Eduardo Cunha voltou a assombrar os petistas, que, por prudência, avaliaram que poderia se repetir o que aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff — o impeachment depois que ela se recusou a compor com o então presidente da Câmara.

Para obter a reeleição, Lira não jogou parado. Fez gestos políticos para o governo — costura a entregar ao PT a Comissão de Constituição e Justiça em um esquema de rotatividade entre os partidos; para os colegas — reuniu em um jantar, na última quinta-feira, parlamentares de todos os espectros políticos da Casa; e também agrados — alterou as regras para distribuição de cargos na Mesa Diretora e o valor do auxílio-moradia dos deputados de R$ 1.747 para R$ 4.148,80. (Com Kelly Hekally)

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