Por: Vicente Nunes e Denise Rothemburg/Correio Braziliense
Relator do inquérito que apura responsabilidades sobre os atos antidemocráticos e principal alvo dos extremistas, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes aproveitou sua fala no seminário Lide Brazil Conference Lisboa para lançar a ideia de uma nova legislação internacional que proteja a democracia. “Da mesma forma que há uma lei contra o tráfico de drogas, de pessoas, há a necessidade de uma lei contra o tráfico de ideias contra a democracia”, disse Moraes. Ao falar pela primeira vez de forma mais detalhada do encontro com o senador Marcos do Val, Moraes definiu a tentativa de golpe como uma “operação Tabajara” e, de quebra, levantou dúvidas sobre o depoimento do senador à Polícia Federal: “A única conversa que houve foi no salão branco”.
Moraes contou que Do Val solicitou audiência e foi recebido no salão Branco do STF. “Ele me disse que Daniel Silveira o havia procurado para dizer que, numa reunião com Bolsonaro, a ideia “genial” que tiveram era colocar uma escuta no senador para que ele pudesse me gravar e, assim, tentar solicitar minha retirada dos inquéritos. Perguntei se poderia confirmar tudo por escrito e eu tomaria o depoimento ali mesmo. Ele disse que era uma questão de inteligência e não estava disposto a dar depoimento”, contou o ministro. A declaração de Moraes contradiz o depoimento de Do Val à Polícia Federal, quando o senador mencionou duas conversas com Moraes. “Veja a que ponto chegamos, uma tentativa Tabajara de golpe”, afirmou o ministro.
Moraes foi incisivo ao dizer que qualquer nova legislação em defesa da democracia terá que tratar as plataformas de rede social. “Não é possível que plataformas sejam imunes à responsabilização”, comentou, referindo-se à sequência de “ataques maciços” desse populismo extremista que elas terminam
Abrigando. “O papel das redes sociais, que deveria servir à livre expressão, foi capturado e transformado em mecanismo de lavagem cerebral, transformou pessoas em zumbis que cantam o hino nacional para pneus”, disse Moraes, repetindo uma expressão que já havia sido usada pelo ministro Gilmar Mendes nesta manhã, quando o decano do STF se referiu ao exército que sai das redes sociais como “zumbis consumidores de desinformação”.
Moraes considera que o país e o mundo não têm mecanismos para tratar de situações emergenciais em que a democracia é corrida por dentro. “O que tivemos foi um fortalecimento do Poder Executivo para tratar de agressões externas. Mas não há algo que controle o abuso, quando políticos populistas atacam as instituições”.
Os quatro ministros do Supremo que discursaram esta manhã ressaltaram ainda o papel da urna eletrônica como um meio eficaz de coibir ataques à democracia. “Tentaram a volta do voto impresso. Imagine o que teria sido em termos de desinformação”, comentou o ministro Luís Roberto Barroso. Preocupado com o avanço do grupo tremíamos no mundo, o ministro Ricardo Lewandowski destaca que há esperança: “O Brasil sobreviveu ao 8 de janeiro. Sinal de que nossa Democracia é resiliente. Há no mundo todo um esforço para revigorar e fortalecer os organismos internacionais. Temos que trabalhar nessa direção”.