22 de novembro de 2024
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Renan Franza- Diario de Pernambuco

Nesta segunda-feira (10), o governo de Raquel Lyra (PSDB) completa os seus 100 primeiros dias. No ano passado, a então candidata e ex-prefeita de Caruaru fez história e venceu Marília Arraes (SD) no segundo turno, com 58,70% dos votos válidos, se tornando a primeira governadora na história de Pernambuco.
Durante todo o período eleitoral, que foi marcado pela polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a tucana adotou uma estratégia inusitada.
No primeiro turno, apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB), que fazia parte da federação partidária formada por MDB, PSDB e Cidadania, respeitando a aliança partidária. A surpresa, no entanto, veio no segundo turno, quando a candidata se absteve de opinar sobre as eleições nacionais, sempre reiterando que a sua pauta seria “discutir Pernambuco”. 
Fortemente criticada durante o período eleitoral, principalmente pelo elo político mais ligado ao então candidato Lula, a acusando por diversas vezes de ser “a candidata do bolsonarismo e da extrema-direita”, Raquel Lyra não deu ouvidos às provocações e provou que a sua estratégia viria a se consolidar nas urnas. 
Com começo conturbado logo nos primeiros dias, a tucana ordenou a exoneração de todo o quadro de comissionados do estado, foi acusada de faltar com o pagamento a funcionários terceirizados da rede estadual de educação e recebeu o Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco (Sassepe) com uma dívida na ordem R$ 296 milhões, adquirida nos últimos quatro anos da gestão comandada por Paulo Câmara (sem partido).

 
A reportagem do Diario de Pernambuco convidou os principais candidatos que disputaram o Governo de Pernambuco em 2022 para responder à seguinte pergunta: “como você avalia os 100 dias de gestão de Raquel Lyra?”.

Confira: 


Anderson Ferreira (PL)

O bolsonarista, que ficou em terceiro lugar na disputa, com 18,15% dos votos no primeiro turno, se colocou à disposição da atual gestão e responsabilizou o governo PSB pelas críticas que vêm sendo recebidas por Raquel. 
“É visível que após dezesseis anos dos governos do PSB, e diante de toda a herança deixada, a palavra que define melhor o momento é ‘reconstrução’. Não será uma tarefa fácil. E é um esforço que precisa da ajuda de todos que querem ver Pernambuco dar a volta por cima e resgatar o seu protagonismo no Nordeste e no país, sempre colocando as pessoas à frente”.
Danilo Cabral (PSB) O candidato à sucessão da antiga gestão não logrou êxito e ficou em quarto lugar no embate pelo governo estadual, com 18,06% dos votos. Danilo, que foi o principal alvo das críticas da governadora eleita na época da campanha, devolveu as provocações e criticou duramente o início da gestão. 
“Não conseguimos perceber ainda, em cem dias, a que veio a nova gestão. Esse período é curto para entrega de ações , mas é suficiente na sinalização da forma de governar. Não nos interessa torcer pelo pior, queremos que Pernambuco avance e que a população tenha mais qualidade de vida, mas como oposição, cabe-nos fiscalizar as ações e fazer as críticas  no sentido de sempre construir os melhores caminhos. Chama a atenção a ausência dela no interior. Com exceção de Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, nenhuma cidade do interior recebeu a presença da Governadora nesse período”. 

Marília Arraes (SD) 

Principal rival de Raquel Lyra durante a campanha, a ex-deputada adotou duras críticas à então candidata durante toda a disputa eleitoral, endurecendo ainda mais a postura durante o segundo turno, quando foi derrotada pela tucana. 
Marília Arraes não amoleceu o tom e repetiu muitos dos argumentos utilizados durante as eleições para reforçar que está mais viva do que nunca na oposição ao atual governo estadual. 
“Os cem primeiros dias do governo Raquel Lyra são uma verdadeira usina de crises, principalmente em questões básicas da gestão, como o pagamento de servidores, repartições públicas e chefias de servidores que, depois de cem dias continuam a acéfalas, pessoas que não sabem a quem se reportar. Uma desorganização típica de quem não sabe a dimensão do cargo que ocupa e também, de alguém que nega a política, que não assume o seu posicionamento político publicamente, mas que tem práticas típicas bolsonaristas.
A falta de diálogo da governadora vem desde a sua época enquanto prefeita de Caruaru, já que ela não dialogava com os vereadores e com os outros atores políticos da cidade, e isso apenas se reproduz em grande escala para o estado de Pernambuco. Uma pena que haja esse começo, em um estado que já vem tão sofrido depois de oito anos de Paulo Câmara.”


Miguel Coelho (UB)

O ex-prefeito de Petrolina foi destaque nos holofotes da imprensa após declarar apoio irrestrito a Raquel Lyra minutos depois de descobrir que não logrou êxito no primeiro turno, ocupando a quinta posição na disputa, com 18,04%.
Após os 100 primeiros dias, o ex-gestor se colocou à disposição do Governo de Pernambuco, mas não deixou de fazer críticas moderadas e destacar pontos de atenção a serem adotados durante os quatro anos de mandato que a governadora ainda tem pela frente. 
“Cem dias é muito pouco tempo para dizer se ela está no caminho certo ou não. Acredito que ela tem a chance de provar a sua imagem e vontade de mudanças, inclusive na relação com o Governo Federal e com Lula, que é uma página em branca a ser preenchida.

O momento de Raquel imprimir a sua marca de gestão, é justamente nesses primeiros meses. É agora que ela tem que apontar as ações sobre os principais problemas de Pernambuco, como mobilidade, estradas, saúde e água para a população. A governadora também precisa começar a pensar em formar a sua base política, e entender de fato quem a apoia e é fiel, e quem só está junto por conveniência. Política é assim, o que é bom depois de 4 anos fica, e o que não agradar, vai embora.

Só se ganha uma herança quando alguém morre, e como na política, apesar dos últimos anos desastrosos do PSB, ninguém morreu. A responsabilidade pelo Sassepe passou a ser de Raquel a partir do dia primeiro de janeiro de 2023. Acredito que a gestão precisa pensar com agilidade em uma forma de resolver os problemas, não se pode fazer política olhando para o retrovisor. […] Como já se sabe, o União Brasil está dividido. No segundo turno eu e meu grupo político declaramos apoio a Raquel Lyra, e esse apoio segue, ela sabe que pode contar conosco. Se no futuro a situação mudar, saberemos o que fazer.”


Pastor Wellington (PTB)

Wellington Carneiro, pastor, advogado e gestor público, chegou às eleições de 2022 como desconhecido, tendo surpreendido alguns dos próprios candidatos em bastidor por seu nível de articulação durante os debates televisivos. Apesar do esforço, não alcançou 1% dos votos na disputa. Crítico de Lula e das gestões do PSB em Pernambuco, disse que ainda vai aguardar os próximos meses para firmar posicionamento, embora tenha condenado o que chamou de “tradição das antigas gestões” ao se referir a nomeações de políticos para cargos do segundo escalão.
“É necessário muita cautela ao avaliar um governo com apenas cem dias. No entanto, algumas coisas já me preocupam na atual gestão da governadora Raquel Lyra. Primeiro que não há nenhum apontamento no sentido de enxugar a máquina pública, na verdade há um certo inchaço, aumentos excessivos de salário, além da troca de favores, que segue a tradição das antigas gestões. É a mesma lógica de nomear as velhas raposas dos grandes partidos para cargos no governo”.
Que Deus ilumine a governadora para que ela possa conduzir da melhor forma o nosso estado. Acredito que ela tem uma chance ímpar para fazer um governo diferente e mostrar realmente para que veio.”


Diario de Pernambuco também ouviu a governadora Raquel Lyra e a vice-governadora Priscila Krause (Cidadania), que fizeram um balanço dos 100 dias de gestão. Raquel adotou um olhar mais amplo das realizações da gestão, enquanto Priscila trouxe um perfil mais técnico, com números e dados orçamentários. 


Raquel Lyra

“Encontramos o nosso estado no pior momento de sua história. Os desafios são enormes. Esses primeiros cem dias foram de muito trabalho para começar a pôr a Casa em ordem. Equilibrando as contas, cortando gastos desnecessários estamos economizando para investir mais e melhor. Já começamos a tirar projetos do papel através de programas como o Morar Bem, Delegacias  da Mulher  abertas 24h, números da segurança começando a melhorar, redução na fila de cirurgias, só para citar alguns. Estamos trabalhando para mudar Pernambuco do Litoral  ao Sertão, acabar com a fome, colocar água nas torneiras, diminuir a desigualdade e cuidar das pessoas e das famílias. E assim seguiremos com novas ações e entregas honrando a confiança das pernambucanas e  pernambucanos. Pernambuco será um estado de mudança.”


Priscila Krause

“Nesses 100 dias de governo, podemos dizer que estamos arrumando a casa. Encontramos nosso Estado em uma situação dramática. Só no Orçamento de 2023, Pernambuco tem um saldo devedor de R$ 7 bilhões. Com nosso Plano de Qualidade de Gastos, reduzimos R$ 255 milhões neste primeiro bimestre. Vamos continuar fazendo mais gastando menos, colocando mais policiais nas ruas, dando atenção especial à saúde das mulheres e investindo na educação. O Estado vai chegar para quem mais precisa. Vamos corresponder cada voto dos pernambucanos que clamavam por mudança.”

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