Por Elizabeth Souza/DP
Acusações, ataques e direitos de respostas marcaram o último debate entre candidatos à presidência, realizado nesta quinta-feira, na TV Globo. Os maiores embates se deram entre Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Padre Kelmon (PTB). Também marcaram presença Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Luiz Felipe D’Ávila (Novo) candidatos cujos partidos possuem representação no Congresso Nacional com pelo menos cinco parlamentares eleitos.
Com mediação do jornalista William Bonner, o debate foi composto por cinco blocos, todos com confronto direto entre os postulantes. O 1º e o 3º blocos foram com temas livres, o 2º e o 4º com temas sorteados, todos com direito à réplica e tréplica. Ao final, os presentes realizaram suas considerações finais.
A seguir, alguns dos momentos principais de cada bloco.
1º bloco
Iniciando a rodada de perguntas, o candidato Ciro Gomes relembrou a política econômica do PT, que esteve no poder durante 14 anos, e questionou o candidato Lula se repetiria a mesma dinâmica em um eventual terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto. “[…] O desemprego chegou perto de 12% nesses 14 anos, endividamento das famílias […] é isso que deseja repetir?”, questionou o pedetista.
“Você poderia começar fazendo essa pergunta de outra forma, deveria perguntar como no governo do PT os mais pobres tiveram aumento de 80% real da sua renda, enquanto ricos só tiveram 20%”, respondeu Lula que listou os resultados obtidos com as políticas públicas adotadas nos governos petistas. Durante a réplica, Ciro permaneceu os ataques e citou as taxas de juros que, de acordo com ele, “arrebentaram o crédito das famílias” e acusou o petista de contradições por “falsear o período”, o que, na ótica cirista, “gerou a tragédia Bolsonaro”.
Em sequência, o candidato Padre Kelmon permaneceu com a mesma postura que assumiu durante o debate no SBT fazendo dobradinha com Bolsonaro, sendo chamado de “cabo eleitoral do candidato Bolsonaro” por Soraya Thronicke. Em seguida, o postulante, se dirigindo aos telespectadores, pediu para que não votassem em partidos de esquerda. “Nós sabemos qual o plano da esquerda, [que] quer calar a voz dos padres, das igrejas”, alegou o candidato que ainda utilizou o termo racista “denegrir”.
2º bloco
Dando início à dinâmica de temas sorteados, o primeiro assunto abordado no 2º bloco foi cotas raciais. Iniciado pelo candidato Filipe D’Ávila, que em pergunta a Lula, mencionou os episódios de corrupção durante o governo petista. “120 bilhões se perderam na corrupção, afetando a questão de cotas”, comentou o candidato do Novo, que conclui sua fala questionando o adversário sobre como seria um eventual terceiro mandato. Tendo sido implantada durante o governo do PT, as cotas foram mencionadas por Lula como uma medida que merece ser valorizada.
“Você não sabe o prazer que eu tenho de ter sido um presidente que não tem diploma universitário e que tirou a universidade brasileira de 3,5 milhões e meio de estudantes para 8 milhões de estudantes”, relembrou o petista. “Você não sabe o orgulho que eu tenho de ver meninas negras da periferia, filhas de empregadas domésticas fazendo engenharia, medicina”, completou.
Durante a réplica, D’Ávila retrucou: “Eu acho que você deve pedir desculpas ao povo brasileiro pelo rombo que teve no seu governo”, ao que foi rebatido por Lula. “Você está de frente a uma pessoa que foi o presidente que mais teve preocupação com a inclusão social, por isso que o povo quer que eu volte”.
Um dos assuntos que mais tem gerado polêmica no governo Bolsonaro, mudanças climáticas foi tema da pergunta de Simone Tebet ao atual presidente da República, acusando este de ter liderado a gestão que mais “mais deixou nossos biomas, florestas, meu pantanal queimarem […], maior desmatamento dos últimos 15 anos”, expôs Tebet. “Não é verdade o que a senhora está falando”, iniciou Bolsonaro, que alegou esse ser um problema provocado por questões naturais, e não provocado por interferência humana.
“Temos, no Brasil, 2/3 das nossas florestas da mesma forma como Pedro Alvares Cabral chegou [aqui no Brasil]”, alegou o candidato, que em provocação à adversária lançou: “A senhora tem muito ciúmes da Teresa Cristina [ex-ministra da Agricultura] que tirou sua vaga no Senado Federal pelo Mato Grosso do Sul”, provocou. “Mente tanto que acredita na própria mentira”, emendou Tebet, que disse que “o mundo virou as costas para o Brasil” pelas pautas defendidas pelo governo bolsonarista.
O tema do meio ambiente retornou com o candidato Lula questionando Simone Tebet sobre quais medidas assumiria em uma eventual gestão. “No meu governo é desmatamento ilegal zero”, prometeu a emedebista que não esconde a ligação com o Agronegócio. “Vamos mostrar que não é meio ambiente ou agronegócio, é meio ambiente e agronegócio”. Posicionamento também partilhado pelo líder petista: “Vamos proibir terminantemente qualquer garimpo ilegal”.
3º bloco
O 3º bloco foi tomado por tensões protagonizadas entre os candidatos Padre Kelmon e Luiz Inácio Lula da Silva. Trazendo o tema da corrupção para o seu questionamento, Kelmon relembrou nomes próximos a Lula que foram presos e que denunciaram o líder petista. “O senhor era chefe do esquema?”, perguntou o líder religioso, que foi chamado de “candidato laranja” por Lula.
“Fui absolvido em 26 processos, absolvido pela Suprema Corte e em dois processos da Onu e na [última] quarta-feira por outro processo pelo ministro Gilmar Mendes”, listou o líder petista, que foi interrompido em diversos momentos pelo seu oponente, sendo necessário a interferência do apresentador William Bonner. “Em respeito aos demais candidatos, se acalmem”, pediu Bonner.
“Quando quiser falar de corrupção, olhe para outro e não olhe pra mim”, asseverou Lula, se referindo a Bolsonaro. Os ânimos se acirraram ainda mais quando o petista foi chamado de “sínico” pelo Padre Kelmon, dando início a uma troca de farpas incisiva, o que levou a produção a desligar os dois microfones.
“Vou voltar a ser presidente porque o povo está cansado de gente da sua espécie, você nem deveria se apresentar aqui”, disparou Lula. “Não dá pra debater com uma pessoa que tem comportamento de fariseu”, completou.
4º bloco
O ponto alto do 4º bloco ocorreu logo no primeiro momento entre os candidatos Soraya Thronicke e Jair Bolsonaro. Dando sequência à dinâmica de temas sorteados, segurança pública foi o assunto da vez, no entanto Thronicke, fugindo do assunto, questionou Bolsonaro sobre um suposto “golpe de estado”, caso perca as eleições. “A senhora seria muito dócil comigo se tivesse lhe atendido em todos os cargos, como Sudeco, Ibama”, ironizou Bolsonaro fugindo do assunto mais uma vez. “A senhora gosta de cargos, como não foi atendida virou inimiga nossa”, emendou.
Ao que Soraya prontamente respondeu: “Cargo na Sudeco, no Ibama me deu, sim”, rebateu a candidata, que ainda perguntou ao adversário se havia tomado a vacina contra a Covid-19, assunto que Bolsonaro tem evitado responder sempre que indagado. “Comprei 500 milhões de doses de vacina, se vacinou quem quis […] respeito a liberdade de cada um”, disse sem responder à pergunta de sua oponente. No entanto, ele permaneceu seguindo no ataque.
“E seus cargos, alguns foram atendidos, mas tirados […] Ficou sem cargo, chupando dedo no Mato Grosso do Sul”, continuou Bolsonaro, que também chamou a adversária de candidata laranja. Soraya, imediatamente, pediu direito de resposta, sendo atendida.
“Não sou uma candidata laranja, o senhor me respeite”, interpelou Thronicke, que deu sequência à “lavagem de roupa suja”. “(..) Quem abandonou todas as bandeiras foi o senhor, combate à corrupção, abandonou a bandeira do governo liberal, o partido que lhe abraçou”. Bolsonaro pediu direito de resposta, mas não foi atendido.
Encerrando o debate, o 5º bloco foi marcado pelas considerações finais onde os candidatos puderam se direcionar aos seus eleitores e reiterar os pedidos de voto para as eleições do 1º turno que ocorrem no próximo domingo.