23 de novembro de 2024
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Vinicius Doria-Correio Braziliense

O presidente eleito e, a partir de amanhã, diplomado no cargo pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dará sequência, nesta semana, à montagem de sua equipe de governo. Depois de anunciar os primeiros nomes de ministros, na sexta-feira passada, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa a revelar o resultado da delicada divisão de poderes entre o amplo leque de forças políticas que o apoiam ou ainda demonstram interesse em integrar a base do governo que assume em 1º de janeiro de 2023. Diferentemente de seus dois governos anteriores (2003-2006 e 2007-2010), quando contou com a ajuda do MDB para compor uma base de governabilidade com os partidos de esquerda, Lula, agora, prepara um gabinete diverso, em que as forças mais conservadoras da aliança terão peso proporcional à importância na vitória eleitoral de outubro. Derrotados os antagônicos do bolsonarismo, chegou a hora de acomodar os divergentes.
É como um quebra-cabeça, que só se resolve com o encaixe perfeito das peças. Neste fim de semana, o presidente eleito se debruça a fechar a nova configuração da Esplanada dos Ministérios, definindo quantas pastas o Poder Executivo terá.

Algumas, como a dos Povos Originários (que poderá ser uma secretaria com status de ministério), atendem a compromissos com os movimentos sociais, com os quais o PT e os partidos de esquerda têm compromisso. Mas, a maioria está sendo pensada de forma a alocar representantes tanto do campo progressista quanto do campo conservador que está se incorporando à base de governabilidade.
Não é uma negociação fácil, por confrontar visões de mundo diferentes e vagas limitadas no chamado primeiro escalão do poder. Mas Lula conta com um ponto a favor, que é o compromisso de todos os partidos com a defesa da democracia e o fortalecimento das instituições. Os partidos de esquerda, que formam a base histórica das alianças do PT, terão de abrir mão de algumas áreas tradicionalmente delegadas ao campo progressista para abrigar representantes dos partidos de centro.

“Quem apoiou o presidente Lula compreende que é preciso ter governabilidade. Talvez alguns ainda imaginem que há disputa de cargos, ‘quero isso, quero aquilo’, mas, para construir maioria, Lula vai ter que negociar com os demais partidos que não estavam na base dele nas eleições nem têm expectativa de estar agora. O presidente acha que é possível construir essa governabilidade, conversando. Lula é bom de conversa”, avalia o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força.

O parlamentar explica que Lula foi eleito com 10 partidos, mais o PDT, que se integrou à base no segundo turno, após a derrota de Ciro Gomes (PDT-CE), mas o presidente reconhece que “são poucos para construir uma base no Congresso, por isso ele precisa ampliar, tem que trazer o MDB, o PSD e o União Brasil”. E, mesmo assim, não teria maioria absoluta, “precisa continuar conversando para construir essa maioria”. Sem isso, diz Paulinho da Força, “terá dificuldade, por exemplo, para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição)”.

Centro

Para abrigar as forças do chamado centro democrático, que têm no MDB sua mais forte expressão, o presidente eleito passou as últimas semanas aplainando o terreno com os aliados da esquerda, principalmente do próprio partido, que terão de abrir mão de setores tradicionalmente ocupados por progressistas, como ministérios da área social. Nessa composição, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o grupo dos políticos do MDB do Norte e do Nordeste terão que ser contemplados.

Com o terceiro lugar nas eleições presidenciais e o apoio imediato à chapa Lula-Geraldo Alckmin (PSB) no segundo turno, Simone Tebet “só não será ministra se não quiser”, informa um integrante do governo de transição. Ela é uma das coordenadoras do grupo temático do desenvolvimento social e surge como nome natural para ocupar a pasta correlata, que cuidará das políticas públicas voltadas aos mais pobres, principalmente o programa Bolsa Família.

Mas essa é uma área que, historicamente, fica sob a guarda do PT, por incorporar bandeiras caras à legenda. O choque de forças se dá dentro do próprio grupo temático, em que Tebet divide a coordenação com mais duas mulheres que já foram ministras da pasta em governos petistas: Tereza Campello e Marcia Lopes. A presença das ex-ministras na transição mostra que o PT não pretende perder o protagonismo no setor. Interlocutores da senadora sul-mato-grossense confirmam que Desenvolvimento Social e Combate à Fome é a pasta que ela gostaria de comandar, e que não deverá aceitar outras propostas, como os ministérios da Saúde ou da Agricultura.

No caso do Ministério da Agricultura, a solução deverá ser a divisão da pasta para acomodar aliados conservadores ligados ao agronegócio e a base petista que milita em favor dos pequenos agricultores e comunidades tradicionais. O PSD de Gilberto Kassab (SP) e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), deve ficar com o ministério original, que abrirá mão da área de desenvolvimento agrário para os aliados de esquerda. O senador Carlos Fávaro, do PSD de Mato Grosso, é o nome mais cotado para assumir a Agricultura, com o aval do governador Blairo Maggi, um dos principais aliados de Lula no setor do agronegócio.

Com 11 senadores (2ª maior bancada na Casa) e 42 deputados (5ª maior bancada da Câmara), o PSD é considerado fundamental para garantir maioria parlamentar do futuro governo. Além da Agricultura, a legenda negocia mais um cargo de primeiro escalão, que ainda não está definido. Um dos aliados mais próximos de Lula no partido, o senador Otto Alencar (BA) é um dos nomes cotados para a Saúde.

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