EDITORIAL

Desde a estreia dos cursos jurídicos no Brasil, e até pouco mais de duas décadas atrás, vivíamos em um mercado profundamente receptivo aos profissionais da advocacia. Havia trabalho em abundância. A maioria da classe era formada por advogados generalistas, profissionais liberais que tocavam seus escritórios sem maiores requintes de organização, administrados de maneira intuitiva e, de certo modo, profundamente amadora.

Nos últimos anos, passamos a ser vítimas de uma epidêmica proliferação de instituições de ensino superior. Hoje já contamos 1.367 faculdades de Direito em território nacional. São 42 apenas em Pernambuco. Em todo o Brasil, somos mais de 1 milhão de advogados disputando um mercado onde a crise fez minguarem as oportunidades, inclusive nas carreiras públicas. A retração faz as empresas reduzirem os contratos privados, enquanto que a indisponibilidade orçamentária suprime a possibilidade de novas contratações pelo setor público.

O futuro nos reserva cenário ainda mais desafiador. A inteligência artificial há de estreitar ainda mais a empregabilidade nos serviços, especialmente entre os advogados. Todas as atribuições repetitivas serão assumidas pelas máquinas. A burocracia dos ambientes público e privado será gerida por sistemas, retirando postos de trabalho de uma legião de colegas.

Voltaremos a ser poucos, melhor qualificados, de quem se exigirá habilidades múltiplas e aptidão para definições estratégicas. Uma grande afinidade com as novas tecnologias será essencial. A inteligência emocional e a aptidão para relacionamentos interpessoais, uma grande vantagem. Os conhecimentos verticais em área determinada do direito serão um imperativo, desaparecendo a figura do “clínico geral” na advocacia. O investimento em formação será algo inescapável àqueles que desejarem bom posicionamento no mercado. Teremos escritórios compartilhados, desaparecendo os enormes investimentos em estruturas físicas, dispendiosas e desnecessárias em um futuro de hiperconexões. Teremos imensas sociedades de advogados em home office, operando a baixíssimo custo. A resolução de disputas relevantes se dará majoritariamente fora da esfera pública, confiando-se mais em mediadores e árbitros do que em juízes.

Num mercado competitivo, com tendencial nivelamento qualitativo, uma gestão de excelência permite aumento da eficiência, melhoria do atendimento e redução dos valores de honorários ensejando, por via de consequência, o sucesso do negócio.

No plano ético, teremos ganhos. O Judiciário passará por uma depuração e os traficantes de influências serão levados às barras dos tribunais. Enquanto aumenta a responsabilidade imputada aos gestores pelo descumprimento das leis no âmbito corporativo, crescerá a difusão das exigências de compliance. Melhorarão os mecanismos de fiscalização e teremos aprimoramento dos meios investigativos policiais e do sistema punitivo. Tudo isso trará um ambiente mais limpo e menos suscetível à corrupção.

// Na foto, Ronnie Preuss Duarte, Presidente da OAB Pernambuco