Como este blog tem mostrado, a decisão de qual reportagem se tornará a manchete do Diario raramente é fácil ou unânime. A desta quarta-feira, no entanto, não havia discussão. Desde cedo, a barbárie cometida em Olinda tinha peso suficiente para isso. Não só pela morte brutal do animal – roubado do vizinho, queimado e decapitado – mas fundamentalmente pelo “show de horror” protagonizado pelo agressor, que expôs a cabeça do cachorro em duas praças da cidade. Uma cena vista por muitas crianças, inclusive.

Para completar, a edição ainda traz a continuação da denúncia feita ontem sobre a matança de, pelo menos, 17 animais em um canil público de Caruaru.

Manchete definida. Ou quase. Existia apenas uma dúvida entre usar a palavra “Matança” ou “extermínio”. Ficamos com a segunda.

O problema era como ilustrar esta capa. Antes que imaginem que nós não tínhamos fotos dos dois fatos, este não era o caso. O X da questão estava no impacto que essas imagens causavam. Nós mesmos, na redação, mal conseguíamos olhar para as imagens captadas no telefone celular da repórter.

A cabeça do cachorro exposta na mesa de uma praça é algo forte demais para se expor na capa de um jornal. Participaríamos, indiretamente, do “show de horror” que criticamos.  A saída poderia ser as imagens enviadas por e-mail de Caruaru. Tão chocantes quanto. Eram animais mortos jogados em sacos plásticos.

O jornalismo tem limites. E por mais que as duas fotografias representassem exatamente o que havia acontecido em Caruaru e em Olinda, chegamos a conclusão – unânime – de que era preciso contar esta história de outra forma. Sem as fotos, mas com alguma imagem que representasse a violência do que havíamos presenciado.

A primeira ideia – sugerida por Paulo Goethe – acabou representando o que buscávamos. A editoria de arte aprovou na hora.

A mancha de sangue deixada por uma pata de cachorro falava por si só. Tanto ou mais do que a manchete.

Tanto ou mais do que as fotos que preferimos deletar da nossa edição.