Em tempos de comissões da Verdade, uma história de arbitrariedade. Os pracinhas brasileiros ainda lutavam na Itália contra os ditadores estrangeiros. Em Pernambuco, o início do ano de 1945 representou a abertura de um front caseiro, que tinha o objetivo de redemocratizar o país e tirar Getulio Vargas do poder. A batalha, encampada pelo Diario, era traduzida em passeatas de estudantes, com o apoio de trabalhadores e intelectuais. Em 3 de março, uma mobilização em defesa da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República resultou em duas mortes e na invasão do jornal, que teve sua edição do dia seguinte destruída. O estudante de Direito Demócrito de Sousa Filho tombou com um tiro na testa quando discursava da janela da sacada do Diario. O carvoeiro Manoel Elias, que estava na Praça da Independência, também foi atingido mortalmente pelos disparos dos agentes da Secretaria de Segurança.

Para evitar que o jornal publicasse a notícia das mortes de Demócrito e Manoel Elias, desencadeando um novo protesto contra o governo, desta vez de proporções incalculáveis, policiais invadiram a redação e as páginas da edição do dia 4, que já estavam preparadas, foram destroçadas. Por se recusar a se submeter à censura prévia, o Diario deixou de circular no período de 4 de março a 8 de abril de 1945. O retorno às mãos dos leitores foi garantido por uma sentença favorável à liberdade de imprensa, concedida pelo juiz da 14ª Vara, Luiz Marinho.

No dia da sua volta, o jornal informava que a edição de 9 de abril trazia um “documento histórico”. Era a página 4 do dia 4 de março, a única que havia sido salva da ação da polícia. O texto desta página descrevia como ocorreram as mortes e narrava a emoção do enterro de Demócrito. “Getulio Vargas não quis encerrar o seu ciclo ditatorial sem entregar Pernambuco a um bando de carrascos, que ontem consumaram a sua obra assassina. E é assim, numa onda de sangue, que se inicia a nova administração estadual”.

As mortes em Pernambuco repercutiram em todo país. No Rio de Janeiro, um grande comício no dia 7 de março ajudou a desgastar ainda mais a posição de Vargas, que acabaria sendo deposto pelo Alto Comando do Exército no dia 29 de outubro, mas não perderia totalmente o poder. Ele voltaria ao Catete, mas aí é outra história.