Pernambuco hoje já entrou na rota das grandes estrelas da música internacional. Tanto que até metade dos Beatles (Paul McCartney e Ringo Starr) já pôs os pés aqui. E a tendência é só aumentar o número de reportagens sobre os artistas e a agitação dos fãs nordestinos. Mas em 1991 o cenário era outro. Por isso que a presença de Julio Iglesias, o ídolo latino que queria aumentar suas vendagens no Brasil, mobilizou a redação do Diario. Passando por processo de renovação, a cobertura ficou a cargo praticamente dos novatos.

A chegada do espanhol e seu séquito foi acompanhada por Angélica Santa Cruz, hoje editora da revista Lola. A mim coube o dia seguinte, tentar ser recebido pelo ex-goleiro no seu descanso em Porto de Galinhas. Recém-formado e ainda não contratado – naquele limbo do trabalho temporário pós-estágio – contei com a ajuda providencial de Fernando Gusmão, o fotógrafo que fazia o registro da maior parte dos eventos sociais da coluna de João Alberto. O seu conhecimento abriu as portas do hotel e eu pude contar a história do encontro de dois artistas, um estrangeiro e um pernambuco. Sim, além de Iglesias, ainda conversei com Reginaldo Rossi pela primeira vez.

A reportagem saiu em meia página, mas se fosse escrevê-la hoje precisaria de muito mais espaço. Não confundiria mais Muro Alto com “Meio Alto”. Não contei, na época, sobre os tamancos de Julio Iglesias e sua fixação em só ser fotografado mostrando um lado do rosto. Não narrei o lado fã de Rossi e sua esposa, que levou todos os vinis do cantor espanhol lançados no Brasil para ele autografar. No mais, tive acesso a profissionais sem ataques de estrelismo, uma situação impensável nos dias atuais. No mesmo dia, Iglesias tomou seu jatinho para o Chile. Eu fui de Kombi para redação. E não espero ele voltar.

 

Iglesias acha Nordeste lindo e promete voltar

Paulo Goethe

Depois de dois dias de descanso no Hotel Pontal de Ocaporã, em Porto de Galinhas – a 69 quilômetros do Recife – o cantor Juilo Iglesias embarcou, ontem, no Aeroporto Internacional dos Guararapes, para Santiago do Chile, onde continuará sua turnê mundial. O astro espanhol aproveitou a folga de sua agenda de shows para se divertir com a namorada brasileira, a modelo Tânia Corrêa, e mais 17 pessoas, entre convidados especiais e integrantes de sua equipe. Bastante sorridente e evitando ser fotografado de perto – para ocultar as marcas da idade – ele afirmou que pretende voltar ao mesmo local no futuro, quando fizer nova apresentação no Nordeste. “O que eu posso dizer? O lugar é lindo!”, exclamou, entusiasmado, enquanto distribuía dólares e simpatia às pessoas mais próximas.
Com a certeza de que encontraria seu avião – um Falco 50, um dos modelos intercontinentais mais caros do mundo – já preparado para a decolagem, marcada para o final da tarde de ontem, Julio Iglesias aproveitou o dia para andar de bugre e conhecer as praias de Meio (Muro) Alto e do Cupe. “Ele até voo no nosso ultra-leve, espantando quem o acompanha nas suas viagens”, disse o proprietário do hotel, Carlos Zanoni. A preocupação do cantor com segurança e conforto só era comparável com a beleza das mulheres que integravam a comitiva, três delas vindas de Porto Alegre, o último lugar onde Julio Iglesias se apresentou no País. Acompanhado de longe por sua mãe, Julio ainda experimentou pilotar um jet-ski, antes de sair da água para almoçar e arrumar as malas.
“Dom Hélder Câmara? A pessoa mais doce que já conheci”, respondeu o cantor, quando indagado se foi importante conhecer o arcebispo emérito de Olinda e Recife. A simpatia por Pernambuco, para ele, foi decisiva na escolha do local onde descansaria, antes de enfrentar duas semanas de temporada no Chile. “Não sei dizer quando volto, mas posso afirmar que é muito provável que isso aconteça em breve”, prometeu.

Reginaldo Rossi realiza antigo sonho

Para o cantor pernambucano Reginaldo Rossi, a presença de Julio Iglesias em Porto de Galinhas permitiu a realização de um sonho antigo: conhecer o ídolo e cantar em dueto com ele. “O Julio ligou para mim na terça-feira, dizendo que queria me conhecer”, contou Reginaldo ontem, na piscina do hotel onde o cantor espanhol estava hospedado. “Ele é uma pessoa incrível; disse, inclusive, que como tenho a voz mais grossa, eu cantaria melhor”, relembrou com entusiasmo. Como a chuva da última terça-feira impediu que a comitiva de Julio Iglesias saísse do hotel, a solução encontrada foi a de montar um verdadeiro show interno. “Trouxe três músicos da Churrascaria O Laçador e a festa rolou até as 4h”, comentou Reginaldo.
Segundo o autor de A Raposa e as Uvas, ele forçou Julio a pegar no microfone ao interpretar uma das músicas do cantor espanhol, Noche de Ronda. “Depois cantamos mais duas músicas juntos e ele elogiou o meu francês na canção Ne Me Quite Pas, relatou Reginaldo Rossi. De acordo com o cantor pernambucano, a mãe de Julio gostou muito de sua performance, o que lhe valeu beijos e abraços com o ídolo. Depois da festa, Reginaldo continuou no hotel durante todo o dia de ontem, como convidado do cantor espanhol. “Não vou mais importuná-lo porque, guardadas as devidas proporções financeiras, eu passo por este mesmo assédio que ele vem sofrendo”, comparou.