No dia 28 de novembro de 1859, o Diario de Pernambuco alterou o seu formato, passando a ser impresso em papel maior, com as dimensões próximas às atuais. Em comunicado aos leitores, Manoel Figueroa de Faria revelava que a mudança estava prevista para ocorrer somente no dia 1º de janeiro de 1860, mas a presença de Dom Pedro II na província e a ajuda dos “benignos leitores e generosos assignantes”, anteciparam a novidade. “O Diario de Pernambuco, que acompanha briosamente o progresso e a civilização, Apostollo, como é da liberdade e dos interesses do Brazil, não querendo ficar estacionario, vae assumir maiores proporções, e occupar o primeiro lugar na imprensa brasileira. (…) De hoje em diante, passa ao formato do Thimes, de Londres, contendo como elle oito paginas de igual tamanho”.

Ave, César! A expressão utilizada na abertura da coluna “Revista Diaria”, no dia 22 de novembro de 1859, já demonstrava o estado em que se encontrava a província de Pernambuco com a visita do imperador Pedro II. O Diario convocava a população para receber o monarca, que desembarcaria no início da manhã, no porto do Recife, com uma grande comitiva, para uma estada de mais de duas semanas percorrendo várias cidades.

“Córramos, entoemos nossos canticos patrioticos, maniffestemos nosso jubilo, enchamos o espaço com nossas verdadeiras e espontaneas acclamações ao mais illustrado e magnanimo dos monarchas, cubram ellas o estrondo dos canhões, o atroar das bombas e foguetes, e demonstrem ao mun-do todo o nosso enthusiasmo pela honrosa vizita de imorredoura memoria que agora recebemos”, solicitava o redator. Segundo registro do Diario na edição do dia seguinte, 40 mil pessoas estiveram no porto para aplaudir o monarca.

O jornal de 23 de novembro trazia um relato do primeiro dia de Dom Pedro II entre os pernambucanos. “O porto e a cidade estavam vestidos de gala. No porto todas as embarcações embandeiraram-se; e na cidade, as ruas por onde devia passar o prestito imperial achavam-se apinhadas de junco e de folhas aromaticas, e as janellas decoradas de colchas de damasco”.

Na programação do primeiro dia, um Te-Deum, culto religioso presidido pelo cônego Pinto de Campos. Depois, Dom Pedro II dirigiu-se ao paço imperial, “caminhando com extrema difficuldade por causa da multidão que estava apinhada nas ruas por onde devia passar o prestito e obstruia o caminho”. No paço, ele recebeu a saudação de 120 meninas de diferentes escolas, todas vestidas de branco. À noite, a cidade permaneceu iluminada por causa da visita ilustre.

No dia 26 de novembro, o Diario publicou ofício do chefe de polícia, Tristão de Alencar Capibaribe, onde ele registrava que nenhuma prisão havia sido efetuada por ocasião do desembarque do imperador no Recife. Sua estimativa era de que 80 mil pessoas foram às ruas para ver Dom Pedro II.

Enquanto esteve em Pernambuco, a família de Dom Pedro II ficou hospedada no palácio do governo, construído em 1841, em estilo neoclássico. Tanto o prédio quanto o terreno ao seu redor receberam o nome de Campo das Princesas depois da passagem das filhas do imperador.

Arnoldo Jambo relata no livro Diario de Pernambuco: História e Jornal de Quinze Décadas um episódio no jornal ocorrido nesta época de festas: “Numa das matérias da visita imperial, ao pé da composição e como se continuando com seu texto, um dos tipógrafos ajuntara uma frase ofensiva a S. Majestade: “Vem aí o sacana-mor do Império”. Ao que se supõe, a edição foi recolhida, sendo raro encontrar-se exemplar com o ostensivo e gratuito protesto partido certamente de algum operário gráfico de idéias republicanas”.