O assassinato do padre  Antônio Henrique Pereira Neto, ocorrido em maio de 1969, será o primeiro caso investigado em Pernambuco pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara. A escolha é emblemática. Auxiliar direto do arcebispo emérito de Olinda e Recife – dom Helder era persona non grata na época da ditadura – padre Henrique foi vítima dos agentes de repressão que não podiam calar o líder máximo da igreja no estado. Um crime que comoveu a sociedade recifense. Mesmo sob censura, a imprensa aos poucos começou a dar mais destaque ao assunto. No Diario, a primeira notícia saiu no dia 28 de maio, misturada entre os demais registros da página dedicada aos assuntos de polícia. “O padre Antônio Henrique Pereira Neto, 28 anos de idade, professor de Sociologia do Juvenato Dom Vital e do Colégio Marista, foi encontrado morto ontem, às 6 e 30, na Cidade Universitária”. No dia 29, o jornal anunciava que o sepultamento do sacerdote foi acompanhado por dez mil pessoas e 40 sacerdotes, num cortejo fúnebre que saiu da igreja do Espinheiro até o cemitério da Várzea, numa distância de dez quilômetros, toda percorrida a pé. Em tempos normais, seria manchete de jornal e abertura de página interna, mas não teve citação na capa e ocupou duas colunas, sem foto, na editoria de Polícia.

No dia 30, o Diario publicava o relato de uma testemunha que viu o padre, algumas horas antes do crime, dentro de uma Rural verde ocupada por várias pessoas, em Parnamirim. “Às 6h do dia 26 de maio, nos arredores da Cidade Universitária, o corpo de padre Henrique foi encontrado amarrado de grossas cordas, apresentando dois ferimentos de bala, um no frontal direito e um no pescoço, além de vários hematomas e perfurações produzidas por arma branca”, descrevia o texto, que continuava não sendo chamada de capa e nem a reportagem mais importante da página.

No dia 31 de junho, a primeira menção do assassinato de padre Henrique na capa do Diario. Em tempos de censura, a manchete era o concurso de Miss Pernambuco 1969, que por sinal seria vencido pela representante de Belo Jardim. Por conta da repercussão do crime, o governo anunciava a criação de uma comissão para investigar o crime.

No dia 3 de junho, o Diario dedica quase uma página inteira para a cobertura do “caso padre Henrique”. A polícia anuncia que os prováveis assassinos faziam parte de um grupo ligado ao tráfico de drogas. O sacerdote teria sido morto porque estaria recuperando viciados em seu trabalho pastoral.

No dia 4 de junho, mais uma página sobre o crime, desta vez com fotos da autópsia do corpo do padre. A investigação conseguiu reconstituir os últimos momentos da vida do sacerdote, arrastado do carro para ser executado em um matagal. A “Gang da Bolinha” continuava sendo a principal suspeita.

No dia 5, entre notícias sobre a investigação, o drama da mãe de padre Henrique, que não acreditava na versão da polícia. Quem investigava tinha as mãos sujas de sangue.

No dia 8 de junho, a polícia já admitia que não conseguia avançar nas investigações. Mais de um mês depois, no dia 20 de julho, e o caso já era considerado insolúvel. O juiz Aluisio Xavier não acreditava em crime perfeito. Ele queria mais investigações, principalmente dos suspeitos dentro da própria polícia. Agora é o momento de se saber da verdade.