Igreja da Fronteira, 5 de abril de 2007. Um mendigo é encontrado morto, com uma pedrada na cabeça, em frente à igreja onde Dom Helder Camara viveu. Era quinta-feira, véspera da Sexta-feira Santa. Estava de plantão no jornal como editor de Vida Urbana. Por sorte, estavam também no plantão os repórteres Jailson da Paz, especialista em religião, e Wagner Oliveira, especialista em segurança pública. Os dois especialistas também em contar boas histórias.
Logo percebemos que aquela história, naquele dia e naquele lugar era mais do que simbólica. Por isso, não poderia acabar como normalmente acabavam as notícias sobre assassinatos de mendigos por outros mendigos nos jornais: na lata do lixo (ou na lixeira do email) ou, no máximo, numa nota no pé da página.
Aqui, outro sinal de que a sorte estava do nosso lado: a fotógrafa Alcione Ferreira estava no plantão e foi escalada para a pauta. As fotos ficaram de uma beleza impactante. Com bons textos e boas imagens, decidimos dar uma página inteira com a reportagem. O assunto ainda acabou virando manchete. A primeira na história centenária do jornal mais antigo em circulação na América Latina sobre a morte de um mendigo.
A repercussão foi grande. Recebemos dezenas de emails, faxes (ainda recebíamos fax naquela época) e cartas elogiando o trabalho dos repórteres. De certa forma, a matéria “Dom Helder, um mendigo e a violência” foi um marco na nova política editorial do Diario de Pernambuco, que vem procurando valorizar cada vez mais as boas histórias.
Esse, sem dúvida, foi um dia muito especial. Quando cheguei à redação, a então pauteira, Rose Maria, me orientou sobre a cobertura da morte do mendigo. Fui ao convento e conversei com algumas freiras. Voltei pra redação sabendo que aquela matéria deveria ser diferente, por todo contexto que a envolvia. Melhor ainda foi ter Sérgio Miguel como editor, com seu olhar sempre sensível, e o colega Jailson da Paz, mestre em história e profundo conhecedor de religião como co-autores da reportagem. E as fotos de Alcione Ferreira, claro, não poderiam ser mais perfeitas. Acertamos em cheio na escolha e nosso material foi inclusive finalista do Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo naquele ano. Após a morte de Rogério, como era conhecido o mendigo, continuei acompanhando as investigações, que infelizmente não chegaram ao assassino e cobri também seu sepultamento como indigente, já que não tinha documentos nem parentes para identificá-lo.
Fantástico. Queria poder ler a matéria, vou procurá-la no Google (não consegui aumentar a resolução da página). Parabéns, Wagnero!
Obrigado, Bruninha, mas o mérito foi da equipe toda. Incluo aí Sérgio Miguel, Jailson da Paz, Alcione Ferreira e Rose Maria. Apesar dos inúmeros parabéns que recebemos dos leitores lembro-me também das inúmeras críticas que recebemos de alguns colegas da imprensa pela nossa escolha na edição e aposta na manchete. Marcas do Diario. É que no mesmo dia houve dois grandes casos de polícia que foram destaque nos jornais concorrentes, mas não deixamos de contemplar também em nossa primeira página. Parabéns pra nós. Beijo.