* Tatiana Nascimento

Acredite: jornalista também é gente. Tem sentimentos. E ídolos. O meu é Gustavo Kuerten, o brasileiro que assombrou o mundo do tênis em 1997, quando ganhou Roland Garros. Levantou a taça do grand slam francês outras duas vezes (2000 e 2001). Guga foi número 1 do mundo durante 43 semanas. Neste sábado, 14 de julho de 2012, ele vai entrar para o Hall da Fama do Tênis, nos Estados Unidos, a maior honraria para os tenistas aposentados. Mais um motivo para a fã aqui ficar feliz.

Nunca consegui assistir a um jogo ao vivo enquanto ele estava no circuito. Nem mesmo na Copa Davis. Em 2010, quando Guga já tinha pendurado as raquetes profissionalmente, tive minha primeira chance de ver meu ídolo jogar. Seria uma exibição contra o russo Yevgeny Kafelnikov. E lá fui eu para Florianópolis. Guga ganhou. Eu sorria de orelha a orelha, feliz da vida. No ano passado, mais uma oportunidade. Outra exibição do campeão, desta vez contra o espanhol Carlos Moyá.

Antecipei minha semana de folga do fim do ano para outubro, para coincidir com a Semana Guga Kuerten, evento que ele organiza todos os anos para divulgar o tênis e que inclui um campeonato juvenil. Mas decidi que não iria só como fã. Perguntei a Roberta Aureliano (então editora de Esportes do Diario e hoje diretora de jornalismo da TV Clube) se ela queria que eu tentasse uma entrevista ping pong com o tenista. Claro que sim. E lá fui eu ligar para a assessora do campeão.

“Você quer uma credencial para ver o jogo?”, perguntou a moça. “Não. Eu já comprei o ingresso. O interesse do jornal é na entrevista. Pode ser em qualquer dia. Estarei em Santa Catarina durante toda a semana”, respondi. Fui tão profissional que até me assustei. A assessora, muito simpática, disse que iria verificar a agenda e entraria em contato. Viajei, assisti ao jogo exibição no sábado e fiquei esperando, esperando, esperando.

Até que o telefone tocou. Era a assessora, perguntando se eu poderia ir até o Jurerê Sports, onde estavam rolando os jogos da Semana Guga Kuerten. Claro que sim. Iria até a pé, se fosse preciso. Mentira. O Jurerê Sports fica a uns 20 quilômetros de onde eu estava hospedada. Com a minha falta de preparo físico, morreria antes de chegar. No dia marcado, uma quinta-feira, lá estava eu, com gravador, bloquinho e máquina fotográfica.

A entrevista seria exclusiva, mas eu teria de entrar na fila. Havia equipes do Sportv e da TV Câmara (ou seria TV Senado). Fui apresentada a Guga (quase morri, mas não demonstrei, juro) e fiquei esperando a minha vez. Até que ela chegou. “Vamos agora?”, perguntou meu ídolo. “Claro”, respondi, sem demonstrar emoção. A entrevista durou cerca de meia hora. Foi interrompida por dona Alice, mãe de Guga, que foi levar um pedaço de pizza para o filho.

Falei com o campeão sobre a possível indicação para o Hall da Fama, a participação brasileira na Copa Davis, o trabalho de preparação para as Olimpíadas de 2016, no Rio, e o desafio da paternidade (Maria Augusta nasceria quatro meses depois). Guga respondeu a tudo com calma. Foi muito atencioso. A entrevista acabou, eu agradeci. Foi quando apareceram dois fãs (pai e filho) e pediram para eu tirar uma foto deles com o campeão. “Claro. Mas eu vou querer o favor em troca.”

Não podia perder a oportunidade. Clique. A foto com o meu ídolo. Jornalista e fã. Obrigada por tudo, Guga.

* Repórter do caderno de Economia