No dia em que Nelson Rodrigues completaria cem anos, o Diario não poderia deixar de fazer uma homenagem ao genial escritor e dramaturgo pernambucano. Uma das eternas e obssessivas reclamações de Nelson era em relação às manchetes e primeiras páginas dos jornais. Para ele, a objetividade estava matando o jornalismo. “Os repórteres mentem cada vez menos”, dizia. Inimigo mortal do copy desk, Nelson dizia que ele  “instalou-se como a figura demoníaca da redação”. Reclamava que “na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor”  e que “a partir do copy desk, sumiu a emoção dos títulos e subtítulos”.

Nelson não conseguiu mudar o rumo das coisas. A objetividade venceu. Não convém aqui, neste post, discutir ou polemizar em relação a isso. O certo é que suas frases cortantes, suas opiniões fortes, sua obra como um todo influenciaram e continuam a influenciar gerações. Resumir uma notícia em poucas palvaras não é fácil. Editores se descabelam diariamente para fazer isso. Resumir um fato, um pensamento em poucas palavras e com emoção e profundidade da maneira que Nelson fazia, é coisa de gênio. Por isso, ele é uma inspiração constante na vida de muitos jornalistas.

Para Nelson, o jornal deveria refletir a vida como ela é. Mas para ele, a vida era muito mais subjetiva do que objetiva. A capa de hoje pode parecer estranha àqueles que não conhecem a obra e o pensamento do autor, mas é, antes de tudo, uma homengem. E, como homenagem, merece uma licença poética. O combustível de suas crônicas era o dia a dia do brasileiro. O combustível de um jornal também é isso. Só que, na visão de Nelson, o dia a dia deveria ser retratado sem hipocrisia, de maneira dramática e contundente.

Nada melhor que titular as chamadas de capa de hoje com suas frases. A dificuldade não foi para encontrar as frases, que são inúmeras, mas para escolher as que se encaixavam nas notícias do dia. O interessante é que as frases, mesmo tendo sido escritas há um bom tempo, continuam atuais. A notícia é passageira, mas as frases de Nelson são para sempre. Elas vão além dos fatos. Atingem a alma do ser humano. E, como ele mesmo dizia, a alma é imortal.