Os mais influentes profissionais de imprensa das Américas se reuniram há pouco mais de uma semana, em São Paulo,  para discutir os grandes desafios enfrentados pelo jornalismo durante a  68ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, da sigla em espanhol). Um fantasma rondou o evento e foi assunto predominante entre os mais de 60 palestrantes e nos cerca de 40 painéis: o futuro do jornal impresso.

O blog selecinou algumas frases que resumem e passam um pouco do clima do encontro:

“É válida a discussão sobre cobrar ou não pela leitura de material na internet, mas aposto em soluções híbridas. Não acho que é uma coisa ou outra, é uma coisa e outra”.

“Não está decretado o fim do jornal de papel ou do jornalismo, temos é que descobrir como fazer novos modelos capazes de subsidiar esse trabalho”

“A crise dos jornais dos EUA mostra o esgotamento do modelo. O problema não é a queda de circulação, que ocorre há 60 anos. O problema é a queda da publicidade. Os anunciantes estão descobrindo outras formas de anunciar. 90% do tempo gasto hoje com leitura nos EUA são em tela, não em papel”.

Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas (EUA)

 

“O jornal impresso vai sobreviver como carro-chefe pelo menos por dez anos. Só que este é o mundo do “e” e não do “ou”. O papel vai conviver cada vez com mais produtos digitais”

“O país vive um momento maravilhoso para testar todos os modelos de negócios e o ‘paywall poroso’ (sistema de cobrança por acesso em termos quantitativos, adotado pelo jornal The New York Times)  não é a única forma de monetizar o serviço e garantir a produção de jornalismo de qualidade”.

“O conteúdo pago tem de existir, com o bom jornalismo. E o conteúdo, para ter valor, deveria vir de um conjunto de produtos e não apenas de um. A Infoglobo produz jornais impressos, sites de notícias, aplicativos para celulares, produtos interativos para tabletes, a versão digital do impresso (flip) e o próprio acervo digital”.

Marcello Moraes, diretor-geral da Infoglobo

 

“O editor tem de pensar a curto, médio e longo prazos”

Ricardo Gandour, diretor do Grupo Estado
“Há 50 anos faço jornais de papel e morrerei fazendo jornais de papel”

“O El País investe em sua plataforma digital; hoje é o maior jornal digital em língua espanhola do mundo, com 12,5 milhões de usuários únicos, dos quais 31% estão na América Latina. Atualiza a informação na rede 24 horas por dia com as redações de Madri, Washington e Cidade do México. Mantém gratuito o acesso ao conteúdo. Só cobra de quem quer em PDF ver a imagem do jornal impresso, modalidade que tem 20 mil assinantes, dos quais de 10 mil a 12 mil pagos. No passado, El País cobrou pelo acesso ao conteúdo e chegou a ter 90 mil assinantes. Desistiu ao ser ultrapassado pelo El Mundo em número de usuários únicos”.

“Estou preocupado com a falta de proteção para os direitos autorais na América Latina, onde não existem garantias legais para conteúdo colocado na rede”.

“Na América Latina a mídia impressa continua com boa saúde. Acho que ainda tem cinco anos para adaptar-se às novas tendências. Aconselho que as reformas mais difíceis sejam feitas agora, para não ter que fazê-las, de maneira muito mais difícil, como é o caso de El País, em momentos de crise”.

“No entanto, o modelo de rede ainda não é rentável. Para cada dólar que ganhamos na internet, perdemos 10 nas edições impressas”

“No momento, não há um padrão definido. Ninguém até agora conseguiu operações rentáveis na rede. Pode ser que alguns meios de comunicação tenham sido bem sucedidos em termos de número de usuários, mas ninguém deu mesmo uma resposta financeiramente”

“O El País perdeu 200 milhões de euros de renda entre 2007 e 2012 e reduziu 100 milhões em despesas. Portanto, nós perdemos 100 milhões de lucro”

“Esta reestruturação implica uma redução na mão de obra. É uma reestruturação dolorosa”

“Nós decidimos que a notícia deve ir para a rede no momento em que você a tem”

Juan Luis Cebrián, fundador do gigante El País

 

“Jornalismo é jornalismo em qualquer meio, os conceitos básicos são os mesmos no mundo digital”

Ascânio Seleme, diretor de redação de O Globo

 

“A capacidade de se adaptar a novas tecnologias é uma característica dos jornalistas. Foi assim, por exemplo, com o uso do telégrafo, no século XIX e do telex, no século XX, lembrou ele. A necessidade de jornalistas multimídia, no entanto, não eliminará postos de trabalho para os profissionais monomídia. Você não pode ficar sem aquele jornalista que traz furos de reportagem, mas peca em outros pontos”

Sérgio Dávila, editor executivo da Folha de S. Paulo
“Não dá para apostar que todo mundo fará tudo corretamente em todas as plataformas. É preciso apostar também nos especialistas”

José Antonio Vera Gil, presidente mundial da agência de notícias espanhola EFE