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O Brasil é um país difícil para o jornalista trabalhar. Pernambuco também não fica de fora. Em ano de Copa do Mundo, o Comitê para a Proteção de Jornalistas publicou relatório (disponível para leitura em PDF neste link) onde em 40 páginas tenta responder à pergunta: A justiça prevalecerá sobre a censura e a violência? O documento é recente – primeira semana de maio – e traz um capítulo inteiro dedicado a Pernambuco. Escrito por John Otis, Censura através dos tribunais apresenta um panorama do cerceamento da liberdade de imprensa praticado por políticos, empresários e celebridades. Grandes jornais, empresas
de internet como Google e blogueiros independentes em cidades remotas são todos alvos de ações na Justiça para impedir a divulgação de feitos e malfeitos.

John Otis é correspondente do programa das Américas do CPJ nos Andes, trabalha na Colômbia como correspondente da revista Time e e jornal Global Post. Autor do livro Lei da selva (2010), sobre empreiteiros militares americanos sequestrados por rebeldes colombianos, ele esteve no início do ano na redação do Diario de Pernambuco para conversar sobre o caso da adoção irregular de uma criança em Olinda em 2013 que depois virou um exemplo de censura explícita.

O texto abaixo é do próprio John, onde ele contextualiza a história:

Publicado desde 1824 na cidade brasileira de Recife, Pernambuco, no Nordeste do país, o Diario de Pernambuco é o mais antigo jornal diário da América do Sul ainda em circulação. Ao longo dos seus 190 anos o jornal mexeu com interesses poderosos e foi censurado por regimes militares do Brasil. Mas, no ano passado, o Diario de Pernambuco sofreu seu primeiro caso de censura oficial desde que o Brasil voltou à democracia em 1985.
Em agosto de 2013, o jornal noticiou que Guilherme Uchoa, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, foi alvo de uma investigação sobre tráfico de influência. Ele foi acusado pelo Ministério Público do Estado de favorecer sua filha, uma advogada que estava tentando ajudar seu cliente a acelerar o processo de adoção de uma criança. Uchoa negou as acusações e não foi considerado culpado.
As notícias sobre a investigação, no entanto, tornaram-se um grande furo jornalístico que produziu um frenesi de cobertura na mídia do Recife. Então, de repente, o nome de Uchoa desapareceu das reportagens. Argumentando que seu nome e imagem estavam sendo indevidamente prejudicados, Uchoa convenceu um juiz local a impedir que o Diario de Pernambuco, a emissora de TV que pertence ao mesmo grupo e o diário rival Jornal do Commercio relacionassem o nome de Uchoa à investigação. O juiz advertiu que, para cada dia que esses meios de comunicação ignorassem a liminar, eles seriam multados em R$ 48.000.
A liminar foi suspensa depois de uma semana, mas o silêncio forçado foi constrangedor. Cercado por repórteres e editores na apertada redação do segundo andar do jornal, Paulo Goethe, editor executivo do Diário de Pernambuco, disse ao CPJ: “Essa é uma maneira muito sofisticada de pressionar a mídia.”

Só discordo de uma coisa, ou melhor, duas: não acho a redação tão apertada assim. E fica no primeiro andar.