Às quintas-feiras e domingos, o Diario circula com o caderno Vrum, especialmente voltado ao setor automotivo. Comandada por Jorge Moraes, a equipe de sete pessoas, entre repórteres e editores assistentes, divide-se entre as apurações na redação e as viagens para testar os veículos que serão lançados no mercado. É muita correria com um pouco de glamour. Meio dominado nas décadas anteriores pelos homens, hoje é cada vez mais comum ver mulheres escrevendo sobre carros e motos. O Vrum é um exemplo disso. Que o diga Luciana Morosini e a sua experiência, no texto abaixo que escreveu especialmente para o blog.
Preocupação da mãe, orgulho do pai
Por Luciana Morosini *
De tantos convites para eventos de test drive fora de Pernambuco, a grande maioria é mais glamour do que a realidade representa. Viagens cansativas, horas de aeroporto, avião, estrada, trânsito. Mas não tenho do que reclamar. Graças à minha profissão, pude experimentar sensações que jamais imaginei para mim. Aventuras de deixar qualquer um, principalmente os marmanjos, babando.
Já passei por outras editorias, mas atualmente escrevo sobre carros. Um ambiente dominado em sua essência pela presença masculina – e tantas vezes envolto de machismo. Com os homens, maioria que domina o setor, duvido que questionem ou achem tão incríveis os seus feitos – de trabalho, vale ressaltar. Mas, quando é comigo, o espanto é sempre grande. “Sim, mesmo sendo mulher, escrevo só sobre carros” é resposta que costumo dar frequentemente.
Certa vez, presença confirmada em evento da Audi, mandam perguntar o número do meu sapato, tamanho da roupa, circunferência da cabeça e tipo sanguíneo. Devia ter desconfiado que vinha algo da pesada por aí, mas costumo ser desligada e apenas mandei as informações. Chegando ao evento, recebi um macacão e um capacete com meu nome e sapatilha de piloto. O lançamento do Audi R8 GT era uma competição entre jornalistas para ver quem atingia a maior velocidade. Acelerei o esportivo de R$ 1 milhão a exatos 317 km/h – não venci, a título de informação. Depois liguei para minha mãe, ainda carregada de adrenalina, contei a aventura e, do outro lado da linha, quase nenhum entusiasmo, apenas preocupação.
Depois veio um convite para fazer uma trilha com grau 10 de dificuldade numa escala de 1 a 10 a bordo de um Jeep. Daí preferi não revelar para minha mãe do que se tratava a viagem. Ela viu o resultado depois, nas matérias do jornal e TV. Recebi apenas uma mensagem dizendo “que bom que não soube antes o que você ia fazer”.
O último convite, na semana passada, dizia que eu ia dirigir um Jaguar em Interlagos. Mesmo empolgada, omiti a informação da minha mãe até depois de dirigir – a 180 km/h na pista molhada. Não que ela não ache legal. Ela acha e certa vez até reclamou porque coloquei numa matéria que se ela soubesse a quanto dirigi numa estrada, não gostaria. Não, mãe, eu bem entendo que a visão feminina, de proteção e preocupação, neste ambiente que trabalho está bem longe da visão masculina.
A prova é que meu pai, por outro lado, também se preocupa, mas não consegue se conter de orgulho e passou a me apresentar aos amigos em eventos sociais de forma diferente: “Essa é minha filhota caçula Luciana, jornalista, escreve sobre carros no Diario de Pernambuco e já dirigiu um Audi a mais de 300 km/h”.
Se é para resumir, posso dizer que, como jornalista do setor automotivo, sou uma mistura dos sentimentos da minha mãe e do meu pai ao testar cada carro: um pouco de cauteloso pé no freio e um tanto de afoito pé no acelerador.
* Editora assistente do caderno Vrum