Em Foco Fred

Com o país todo de olho na Copa, o editor de Mídias Sociais do Diario, Fred Figueiroa, escreve na página Em Foco sobre o problema da impunidade no futebol brasileiro, tendo como exemplo o caso do torcedor do Sport que morreu assassinado na calçada do Arruda, vítima de um vaso sanitário atirado das arquibancadas.

Uma ode à impunidade

Às vésperas da Copa, STJD reduz punição ao Santa Cruz e dá um aval para a estrutura precária  que ameaça os torcedores no país

Fred Figueiroa

A menos de uma semana do início da Copa do Mundo, o futebol brasileiro levou mais um duro golpe em seu lento processo de moralização e evolução estrutural – que poderia (e deveria) estar passando hoje por uma verdadeira revolução com as transformações exigidas pela Fifa. Ontem, longe do foco da mídia nacional, a impunidade prevaleceu de novo, amparada mais uma vez pela ineficiência e falta de critérios da justiça desportiva do país. No Rio de Janeiro, o pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva se reuniu para o novo julgamento do brutal assassinato do torcedor Paulo Ricardo na saída do Arruda, atingido por uma das duas privadas arrancadas do banheiro do estádio e arremessadas do anel superior depois da partida entre Santa Cruz e Paraná pelo Campeonato Brasileiro da Série B. O ato selvagem – que só aconteceu por graves falhas na segurança e na estrutura interna do clube – tirou a vida de uma pessoa e poderia ter sido ainda até pior.
Ontem, de forma surpreendente, o pleno do STJD resolveu diminuir a punição ao Santa Cruz de cinco para apenas três mandos de campo. E a pena que já havia sido leve – ainda que tenha se levado em conta de forma correta o fato dos assassinos terem sido identificados e presos – tornou-se absurdamente branda. E o mais grave: a decisão cria uma jurisprudência que abre novamente as portas para a impunidade reinar no STJD. Se a barbárie do Arruda resultou em apenas três jogos de portões fechados, o que precisará acontecer em um estádio de futebol para punições mais rígidas?
A punição ficou tão desproporcional à gravidade do fato que ela é basicamente a mesma que o próprio Santa Cruz sofreu do STJD por conta da briga entre integrantes de organizadas no estádio Rei Pelé no ano passado – quando não houve um ferido sequer. Pela confusão em Maceió, o Santa Cruz foi punido com três jogos a mais de 150 km de distância exclusivamente pelo comportamento violento dos seus “torcedores”, já que não era responsável pela segurança e nem pela estrutura do estádio.
Como considerar então que o comportamento dos assassinos de Paulo Ricardo foi proporcional ao dos brigões de Maceió? Aliás, dois deles também estavam na briga em Alagoas. Reincidentes que fazem do próprio Santa Cruz também um reincidente. Não tem como aceitar que o ato de arrancar privadas do banheiro e atirar covardemente contra pessoas tenha a mesma gravidade de trocar murros e pontapés com rivais de organizadas.
E isto sem considerar a responsabilidade do clube pelo ocorrido. O fato dos criminosos terem sido identificados (com ajuda das câmeras internas) até ameniza um pouco, mas não torna o Santa Cruz isento pelo que aconteceu. Pelo contrário. É óbvio que a precariedade do Arruda permitiu que o assassinato acontecesse.
A quase absolvição do Santa Cruz pelo SJTD expõe ainda mais o momento esquizofrênico em que vivemos. Ao mesmo tempo em que há uma indignação geral no país pelo fato de algumas das modernas arenas da Copa ainda estarem em obras a seis dias da abertura do Mundial, ainda resiste uma conivência com a precariedade dos velhos estádios e com a condição de insegurança dos torcedores que vão os jogos de futebol da “vida real” .
E o pior: Essa conivência parte principalmente dos próprios torcedores. Não tenha dúvida que este texto será alvo de todo tipo de críticas e agressões por parte de alguns torcedores do Santa Cruz. Até mesmo os de bem.  Tem sido assim desde ontem com todo jornalista que se posicionou contra a redução da punição nas redes sociais. Não é porque o fato aconteceu em nosso estado ou mesmo no nosso clube, que devemos mudar de opinião ou de postura. Não podemos mudar de lado nesta cruzada pela moralização, estruturação e pacificação no futebol. Entendo a paixão que move os torcedores. Mas em alguns momentos é preciso parar e ver para onde esta paixão está levando. Esperava que algo mudasse quando o pior acontecesse. Mas o pior aconteceu e continuamos os mesmos.