Em Foco 0807

No lugar de Neymar, Bernard. A razão e o coração divididos antes do jogo decisivo do Brasil contra a Alemanha. É o que aborda o texto do Em Foco do Diario desta terça-feira, escrito por Luce Pereira.

Desesperar, jamais

Todos esperam ver no substituto de Neymar o Amarildo (reserva de Pelé) que na final contra a Tchecoslováquia, em 1962, marcou um dos dois gols do título

O que sugere a razão:

Os melhores amigos do pessimismo são a descrença e o medo, levando pessimistas a achar que sua grama nunca será verde como a do vizinho. No entanto, em verdade vos digo: talvez mais do que os jogadores e a torcida brasileiros, alemãs de dentro e de fora da Arena Mineirão estejam tremendo nas bases para a partida deste terça-feira. Basta lembrar que os comandados de Joachim Löw não navegam em um mar de rosas: vêm de um empate com Gana e precisaram de prorrogação para vencer a Argélia. Se for pouco, que tal uma lida nas análises da crítica especializada do país deles sobre o esquema tático da equipe? Nada elogiosas. Apesar de ser um primor de técnica e organização, os “meninos de Angie” também cometem erros, ainda mais na casa do anfitrião, que não é qualquer um, mas o selecionado pentacampeão do mundo.

O que diz o coração:

São a alegria e a esperança que sempre ensinaram o povo brasileiro a fazer do limão limonada. A dramática saída de Neymar da Copa e os dois cartões amarelos do capitão Thiago Silva bem que funcionaram como ducha gelada na fogueira das paixões, mas nada que tenha feito o país deixar de acreditar na vitória. Muito pelo contrário. Há uma tese bastante festejada entre otimistas legítimos de que o ataque sofrido pelo ídolo da torcida criou nova motivação – ganhar a Copa para dedicar a conquista a ele. Assim, quando o coração do país pulsa, à medida que a hora do jogo se aproxima, uma certeza cresce: seja com futebol, com mágica ou com ajuda dos céus, o Brasil vai entregar, em Belo Horizonte, as passagens de volta para a seleção alemã.
Na dúvida, pondere: acaso a Canarinha também não colocou a mão na taça, em 1962, no Chile, mesmo com Pelé fora da disputa? Sendo assim, todos esperam ver no substituto de Neymar o Amarildo que na final contra a Tchecoslováquia marcou um dos dois gols do título. São milhões suplicando a Deus, hoje, uma prova de que Ele é mesmo brasileiro, súplicas que serão redobradas na hipótese de os hermanos passarem pelos holandeses, e nós, pelos alemães. Além de provar pela segunda vez a teoria de João Paulo II, Deus, neste caso, também precisaria esquecer que o papa é argentino.
Só pessimistas “morrem de véspera”, o que significa que, contrariando todos os prognósticos ruins, a torcida brasileira anima-se, afina o grito e cuida que a chama acesa no dia 12 de junho esteja mais viva do que nunca, nesta terça-feira. Bem como sugere a música de Ivan Lins: (…) Afinal de contas não tem cabimento/ entregar o jogo no primeiro tempo/ Nada de correr da raia/ Nada de morrer na praia (…)
Desesperar, jamais.