Brasil 1950

Punida por conta da Segunda Guerra, a Alemanha (agora responsável pela maior vergonha futebolística brasileira, com a goleada de 7 a 1 no Mineirão) foi excluída pela Fifa – assim como o Japão – da Copa do Mundo que seria disputada no país em 1950. Os italianos, que também formavam o Eixo, puderam defender o bicampeonato graças à ajuda de Ottorino Barassi, que ajudou a salvar a taça do mundo. Outra ausência foi da Argentina, que estava com relações futebolísticas abaladas com o Brasil, além de passar por momento turbulento em seu futebol, com seus principais jogadores atuando em uma liga paralela na Colômbia – incluindo o craque Di Stéfano (falecido na Espanha na última segunda-feira).
No dia do Maracanazo, o Diario de Pernambuco, assim como os outros jornais tradicionais, fez questão de enaltecer os brasileiros mais importantes daquele domingo, dia 16 de julho de 1950. “Esquadrão brasileiro, autêntica máquina de vitórias, a um passo do título mundial”, lia-se no jornal, estampando foto de todos os jogadores do Brasil. Mas o tão sonhado triunfo não veio. Nas segundas-feiras, o Diario não circulava, fazendo com que o vice-campeonato no Mundial só fosse noticiado na terça. A manchete “Campeões do mundo os uruguaios” era seguida de um texto que avisava: não era brincadeira, a taça realmente não ficaria em solo tupiniquim.
Na edição de 1950 da competição, o jornal teve cobertura in loco pela primeira vez, enviando o repórter Hélio Pinto e o fotógrafo Enéas Rocha até o Rio de Janeiro, então capital federal e local onde a Seleção Brasileira mandaria a maior parte de seus jogos. Além disso, o próprio Mundial chegou ao Recife: Chile e Estados Unidos se confrontaram no gramado da Ilha do Retiro.

e se 1950

Antes do início da Copa no Brasil, esta de 2014, a editoria de Superesportes do Diario preparou especiais com curiosidades dos outros 19 torneios da Fifa. É um material de consulta que vai ficar para a história e pode ser consultado clicando aqui. Uma das seções mais legais era imaginar um final diferente para os desfechos já sabidos por todos. Em relação a 1950, o Brasil seria campeão em casa, ao segurar o empate com o Uruguai e Barbosa se tornaria um dos heróis. A Canarinha não existiria, porque o time iria continuar jogando de branco. Sessenta e quatro anos depois, a goleada de 7 a 1 da Alemanha, o Mineirazo versão 2014, pedirá um E se… nestes moldes somente quando a dor (ou será vergonha) passar.

E se…

…Barbosa tivesse defendido o chute de Ghiggia…

Yokohoma, 2002. Na véspera da primeira final da Copa do Mundo na Ásia, os presidentes das confederações da Alemanha e do Brasil presenciaram um rápido sorteio na sede do comitê organizador nipônico. Num impasse sobre os uniformes tradicionais, a Fifa precisou definir qual país teria o direito de jogar a decisão com a camisa branca. A Seleção venceu na moedinha e na bola, com dois gols de Ronaldo. A Branquinha voltava a ser campeã do mundo. A precisão do Fenômeno no segundo gol lembrou outro craque, Ademir Menezes, 52 anos antes. Do lado de cá, o Queixada chutara como nunca para dar a vitória e o nosso primeiro título.

O décimo gol do maior centroavante da história do país, eternizado com a Jules Rimet exibida para 200 mil torcedores em um Maracanã pulsante, deu a vitória sobre o Uruguai por 2 a 1. Ainda que equipe de Flávio Costa tivesse a vantagem do empate – a única na história, como se o Brasil fosse precisar, francamente -, o terceiro triunfo brasileiro no quadrangular final consolidou a aguardada conquista. Em 1950, o gol decisivo saiu no momento em que os uruguaios levavam as mãos à cabeça, após a incrível defesa de Barbosa. No contrapé, salvou o chute venenoso de Ghiggia. Nem mesmo o grande capitão charrúa Obdulio Varela segurou o baque com a oportunidade desperdiçada a dez minutos do fim. Ligadíssimo no jogo, o time de branco acionou rapidamente o ataque, até as redes. O sorriso de Bigode na cara e Obdulio, flagrado instantes depois por poucos e relatado por todos, foi quase uma agressão, cortando os nervos do uruguaio, que só voltaria a se calmar na noite carioca, embreagado. Até mesmo porque a tarde já era brasileira no inesquecível Maracanaço.

O título inédito acelerou a organização do futebol brasileiro, até então sem uma competição de porte nacional. Surgiria em 1951 a Taça Brasil, espalhada em todo os grotões com uniformes brancos e tendo o Náutico como primeiro representante pernambucano.A popularidade do futebol levou o dramaturgo Nelson Rodrigues a escrever o “Nós somos Ademir”, sobre o gol que fez o país inteiro pular. O simbolismo da camisa alba fez com muitos clubes brasileiros o adotassem como segundo padrão – não por acaso, é a camisa reserva de alvirrubros, rubro-negros e tricolores até hoje.

Se o mar branco do futebol brasileiro nos estádios da Copa tornou-se uma imagem inerente ao torneio – como esquecer do Rose Bowl apelidado pela imprensa estrangeira de White Bowl no tetra? -, no pequeno país vizinho o trauma parece não ter fim. As derrotas traumáticas para os maiores riviais, em 1930 para a Argentina e em 1950 para o Brasil causaram uma profunda transformação na até então Celeste. A aura dos títulos olímpicos acabou dissipada pelas pratas nos Mundiais. Antes do Mundial seguinte ao Maracanaço, a Asociación Uruguaya de Fútbol (AUF) resolveu lançar um concurso para a criação de um novo uniforme uruguaio. A camisa azul parecia uma encarnação do azar, segundo o burburinho nas “calles” de Montevidéu.

Torcedor fanático do Peñarol, o estudante Aldyr García criou um modelo implantando o amarelo, cor presente no seu time, à seleção. A explicação era até simplória. Era o único elemento ausente na camisa, o Sol da República Oriental do Uruguai. Em 1954, no Mundial da Suíça, o país estrearia a sua nova cara. Meias brancas e calção azul, emulando as faixas horizontais da bandeira, e uma camisa inteiramente amarela. Começava a busca da luz perdida através da Canariña. Azar ou não, o país ainda sonha com o título e tem pesadelos com Barbosa…

O que aconteceu de verdade
Barbosa não defendeu o chute de Ghiggia e o Uruguai, campeão em 1930, tornou-se bicampeão do mundo, no Maracanazo. O Queixada, apesar do histórico de craque, não tem até hoje o devido reconhecimento pela falta do título de 1950 – ainda foi artilheiro do Mundial com 9 gols. A camisa branca do Brasil seria aposentada em 1953, após a criação do gaúcho Aldyr Garcia, que venceu o concurso para o novo uniforme, ciando a Canarinha. Já Bigode teria levado um tapa de Obdulio durante a histórica final.