Com 90 anos completados nesta quinta-feira, Abelardo da Hora não quer nem saber de parar. Tanto que festeja o aniversário  inaugurando uma nova escultura,  O artilheiro, peça de bronze de 12,5 metros de altura e peso de 1,5 tonelada, erguida na cidade natal, São Lourenço da Mata, em frente à Arena Pernambuco. Na edição do Diario, o repórter do Viver, Júlio Cavani, destaca a satisfação do artista com o resultado de sua obra. No vídeo gravado por Eduardo Travassos, Abelardo declama poesia de autoria, escrita em 1962. Um presente para o leitor/internauta.

Meninos do Recife

São habitantes anônimos
Dessa cidade alagada,
De limo e pedra formada
Sob marés.
Submersa.

Em lodo, em lama inconsciente,
Consubstanciada.
Vasto poço de afogados,
Habitação de mitos e de fantasmas.
Imenso pasto de pestes.
Cidade desabrigada.
Habitantes desse pântano,
Sem escrituras, sem títulos.
Submetidos ao ócio
que gera a fome e o vício
E um calendário implacável
De misérias e imprevistos.

São apenas habitantes
Dessa cidade alagada,
Atirados sobre a lama,
Sob as marés da desgraça

Abelardo 3107