Em Foco 1908

Para muitos eleitores, a campanha começa oficialmente agora, com as inserções publicitárias e os programas eleitorais no rádio e na TV. Principalmente em 2014, depois do episódio da morte do candidato do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. A entrada de Marina Silva afeta todas as estratégias, dos socialistas aos adversários petistas e tucanos. Por isso, é preciso muita reflexão. É o que recomenda Luce Pereira no seu texto do Em Foco do Diario de Pernambuco desta terça-feira.

Os dados vão rolar

O que o eleitor minimamente esclarecido espera é um debate onde o campo das ideias seja mais fértil do que o das habituais
picuinhas

Luce Pereira

Os pernambucanos saíram da última semana como de uma batalha onde perderam parte importante do seu “exército”, com a morte do ex-governador Eduardo Campos. No entanto, a guerra está só começando. Basta não esquecer que hoje tem início o Guia Eleitoral, embora este deva ser diferente de todos, com os partidos preferindo render homenagens à figura do presidenciável falecido, devido, sobretudo, à enorme repercussão da morte – e ela ainda faz o coração do povo bater meio descompassado.
Além do mais, como uma triste coincidência, hoje celebra-se a missa de sétimo dia de Campos e então as angústias dos últimos dias serão revisitadas com uma dose a mais de pesar, porque os que ainda tentam conviver com a perda vão, inevitavelmente, lembrar que esta noite representaria alegria, um marco na escalada do ex-governador rumo à Presidência da República. Ou seja, os dados deverão começar a rolar mesmo no segundo Guia e com eles todas as dúvidas, acentuadas a partir das profundas mudanças ocorridas no cenário eleitoral, depois do trágico acidente.
Diante de um quadro com um presidenciável a menos às portas das eleições e um terço dos eleitores dizendo ainda não saber em quem votar, o que se supõe é que mais do que nunca o andar da carruagem vai ser ditado pelos marqueteiros de campanha. Significa que se – pelo formato e características de candidatos e partidos – o Guia Eleitoral não contribui decisivamente para ajudar o eleitor a formar sua opinião, vai ter mais chance de chegar ao Palácio do Planalto quem se valer das melhores estratégias de marketing.
E eis o problema. Em função da reviravolta no processo eleitoral e do pouco tempo para a largada da disputa na mídia, é possível que se ressalte mais a eficiência do marqueteiro do que a qualidade do debate. Aliás, em tempo algum eles precisaram correr tanto contra o relógio para dar conta de tarefas gigantescas como readequar estratégias, agendas, rever material de campanha, tudo com vistas ao novo cenário, que, com o anúncio da candidatura marcado para esta quarta-feira, deve colocar entre os competidores Marina Silva, antes vice na chapa de Eduardo Campos.
Mas, independentemente dos atropelos provocados pela tragédia, o que o eleitor minimamente esclarecido espera é se deparar com um debate onde o campo das ideias seja mais fértil do que o das costumeiras picuinhas observadas nestas disputas. No entanto, embora seja esta a expectativa geral – e ela se repete a cada eleição –, observadores avaliam que a morte de Campos só piorou a possibilidade de haver um debate mais equilibrado. Seja pela pressa, que obrigou todos a uma reconfiguração das ações, ou pelo inusitado da situação – uma nova candidatura posta de última hora.
Hoje, dia do auge do luto de parentes e amigos, pelo sétimo dia da morte de Eduardo Campos, o mais provável é a disputa na mídia ter uma largada sem nem de longe lembrar as previsões de analistas de que vai ser uma das mais aguerridas dos últimos tempos. É preciso lembrar apenas que a indecisão de parcela tão significativa do eleitorado indica, seguramente, reprovação a comportamentos pouco éticos e/ou produtivos de candidatos e maior resistência a aceitá-los.
Em outras palavras, indecisos gostariam de ver ideias políticas oxigenadas e eis por que continuam sem ânimo para fazer escolhas. Renovação seria uma das bandeiras mais defendidas por Campos, mas espera-se que todos os partidos se apropriem dela – e não apenas na teoria. Há um “não” no ar para a velha política.