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Festival

Festivais de música foram a válvula de escape de uma geração de novos compositores na década de 1960, em plena ditadura militar. Novas linguagens e instrumentos elétricos foram testados entre aplausos e vaias. Em Pernambuco, há 45 anos, os Diários Associados promoveram o 1º Festival Nordestino de Música Popular, com a grande final sendo realizada no Teatro do Parque, no dia 23 de agosto de 1969. A história contada por seus protagonistas foi publicada no caderno Viver do último sábado. O bom é que, a partir da apuração, a gravadora Rozenblit digitalizou o disco com as doze músicas finalistas, que podem ser conferidas clicando aqui. Neste link também pode ser lido outra reportagem sobre os demais festivais alternativos da época e assistido um vídeo com o depoimento de Expedito Baracho, o grande vencedor.

Gravado na memória

Ad Luna e Isabelle Barros

Faixas, cartazes e torcidas organizadas em ônibus fretados tomavam o Teatro do Parque há exatos 45 anos, em 23 de agosto de 1969, para a final do 1º Festival Nordestino de Música Popular. A competição, promovida na época pelos Diários Associados, era um exemplo de como os concursos musicais mobilizavam cidades inteiras entre os anos 1960 e 1970. Transmitidos pelo rádio e por emissoras de TV, eventos como esse acirravam paixões e também revelaram cantores e compositores.
O primeiro Festival Nordestino de Música Popular, que teve mais duas edições, em 1970 e 1971, contou com centenas de inscrições de todos os estados da região. Após a realização de eliminatórias, em Fortaleza, Salvador e no Recife, a capital pernambucana recebeu a final, com 12 concorrentes, quatro da Bahia, quatro do Ceará e o mesmo número de Pernambuco. Todas as músicas da última etapa foram gravadas em disco pela Rozenblit.
A canção vencedora foi Poema do amor sem luz (PE), defendida pelo cantor Expedito Baracho, junto com o Coral do Carmo, e composta por Reginaldo de Oliveira em parceria com o falecido violinista, compositor e regente Cussy de Almeida (1936-2010). “Nós tínhamos uma torcida organizada toda de azul. A música foi sorteada para ser a primeira da noite e levamos a maior vaia do mundo, que só acabou quando o coro começou a cantar”, lembra o intérprete pernambucano. O prêmio, para o primeiro lugar, era de um carro Esplanada Chrysler 0km para os compositores e uma passagem para Portugal para os intérpretes.
De acordo com Oliveira, que criou a letra, enquanto Cussy ficou com a melodia, a canção é dedicada à filha, Diná, que tem atualmente 2% da visão. “A composição me emociona até hoje. E, na época, apresentar uma música em um festival como esse era um acontecimento”. As palavras da música trazem a perspectiva de quem não pode ver, como pode ser visto na primeira estrofe: “Ouvi dizer que azul é o céu e verde é o mar / Ouvi contar que é bom sentir só pelo olhar / Dê vida à minha vida / É bom viver só para ouvir você falar”.
O cantor Claudionor Germano, por sua vez, defendeu Cirandância, um baião colorido por arranjos armoriais, composto pelo poeta Marcus Accioly e Cussy de Almeida. O maior intérprete de Capiba de todos os tempos diz lembrar que a disputa era muito grande. “Teve até briga na porta do Teatro do Parque”, relembra, rindo. “Deveriam renovar esse projeto. Seria uma forma de o pessoal mais novo mostrar seus trabalhos. Veja o que acontece com o frevo: as pessoas só se lembram das gravações mais antigas”.
Para Accioly, que também participou do festival com outra composição, chamada Cantata do amor maior – mais uma finalista – o concurso trouxe uma maior aproximação com outro universo. “Sou poeta, mas não tinha, até então, participado de nenhuma canção, nada cantado. Hoje tenho pelo menos umas 300, sempre em parceria, até com Capiba”.

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