Em Foco 3108

Com Marina em campo, e já liderando as pesquisas, as coordenações de campanha de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) estão modificando seus planos de marketing em uma verdadeira corrida contra o tempo. Faltando pouco mais de um mês para as eleições, será melhor atacar a substituta de Eduardo Campos na chapa do PSB ou esperar que tudo não passe de uma onda momentânea? Tema do Em Foco do Diario do domingo, por Vandeck Santiago.

Até onde ela vai?

Dilma e Aécio traçaram estratégias para um tipo de eleição e agora têm que redefinir suas campanhas para uma disputa completamente diferente

Três pesquisas na semana, três resultados idênticos e uma certeza para as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB): ficar passivamente esperando que o avanço crescente de Marina Silva seja apenas uma onda momentânea é tática arriscada, que pode mais na frente colocá-los diante de um cenário irreversível. “Nunca vi ninguém ganhar jogo só olhando o adversário jogar”, me disse um parlamentar federal do PT, logo após a divulgação da terceira pesquisa da semana, a do Datafolha, sexta-feira à noite, que mostrou Dilma e Marina Silva (PSB) empatadas com 34% e Aécio com 15%. “É um momento arriscado, porque o adversário que faz 3 x 1 pode fazer 4 x 1 e aí já viu, né?…”
O problema é que as estratégias de Dilma e Aécio foram traçadas há mais de um ano visando um tipo de eleição – e de repente se veem diante de outra completamente diferente. Pensaram que iam para uma partida de xadrez, estão às voltas com uma luta de MMA. Precisam agora redefinir suas campanhas, e rapidamente. O parlamentar preocupado com o 3×1 faz parte de um grupo favorável a mudanças na propaganda eleitoral de Dilma, com a inclusão de uma agenda mais esperançosa para o futuro e com um plano específico para combater Marina.
Numa situação dessas, o ímpeto de ir para o confronto direto com o adversário que o ameaça é contido por dois temores: o primeiro, de que o atacado torne-se “vítima”; o segundo, de o ataque gerar insatisfação dos eleitores do candidato atacado. Daí porque o PT está esperando que parta do PSDB o ataque à candidata, e o PSDB esperando que o PT faça isso…
Em condições normais, Marina já seria uma candidata forte. É mais ainda nas condições em que assumiu a candidatura, embalada numa fatalidade e com diversos pontos a favor. O PSB teve a chance de duas entrevistas no Jornal Nacional da TV Globo – uma com Eduardo Campos, outra com Marina. A exposição dela na mídia foi maciça desde a tragédia de 13 de agosto. A comoção popular instalou-se com todo peso em seu palanque.
Faltando 35 dias para a eleição a incógnita é se a onda Marina chegará lá com a mesma força de hoje. A tese defendida por ela e pelo PSB, da “nova política” (no sentido de “nós somos diferentes de todos os outros”) e de governar com “os bons” de diversos partidos, é um xarope que só engana quem quer ser enganado – quem já passou um dia observando a política sabe que não passa de um artifício usado por quem entra numa disputa querendo ser alternativa aos que estão no poder. A coligação de Marina deve eleger, digamos, uns 50 deputados federais. A Câmara tem 513. Nenhum governo se sustenta sem maioria parlamentar. Para ter maioria, é preciso negociar. Negociação significa participar do governo, o que significa ocupar cargos (e não estou falando de nada escuso, é um procedimento normal numa democracia).
E governar com os “bons”? Lá vamos nós de novo: imagine que o fulano “bom” de um partido aceite participar do governo. Para que ele vá é preciso haver uma negociação entre o governo e o partido dele (uma vez que ele não pode ir sozinho, representando apenas a si próprio). Na negociação é preciso que… Bom, vocês sabem.
Vê-se aí que só no terreno da política dois pilares centrais do discurso da candidata do PSB são pura e simplesmente algo que se diz para arrebanhar votos mas que todos sabem que não será possível de ser posto em prática. Que nome a gente dá a isso?…
Essa parte já é por si só expressiva, dada a contradição que representa: a candidata que diz representar a “nova política” está na verdade utilizando mecanismos da “velha política”.
Até 5 de outubro, dia da votação, muito ainda pode acontecer. O desafio para petistas e tucanos é encontrar questionamentos com eficácia suficiente para abrir fissuras na armadura que hoje encobre Marina.