Um caderno especial pode surgir de várias formas. Nestes tempos onde o papel é cada vez mais precioso, oito páginas foram destinadas a contar, no Diario de Pernambuco desta segunda-feira, as histórias de vida de pessoas que perderam parte do corpo por acidente, doença e fatalidade. Melhor dizendo, das segundas vidas, porque cada amputado renova a sua esperança quando tem acesso a uma prótese. Um tema onde o primeiro desafio é respeitar o entrevistado, que vai relembrar novamente e compartilhar com desconhecidos uma passagem dolorosa de sua biografia. Tarefa cumprida com louvor pela repórter Juliana Colares e os repórteres fotográficos escalados para registrar os depoimentos de Josenilson Florêncio, Charles Barbosa, Tiago Machado, Josué Pereira, Roberto Maurício, José Pedro, Maria José da Silva Filha, Maria Clara e José Lucas.
A qualidade do trabalho no impresso foi também replicada no especial online, com conteúdo extra além do vídeo acima. Com a palavra, Juliana Colares para seus agradecimentos.
Josué Pereira leva na mão esquerda um anel de ouro com pedra vermelha e, no punho, um relógio barato prateado com detalhes dourados. “É para disfarçar e acharem que o anel também é falso”, explica o homem de 54 anos, que nasceu em São Lourenço da Mata, onde mora até hoje, e há 43 anos é conhecido como palhaço Pinóquio. Por 26 anos, ele levantou o braço direito para ver as horas. Assim que pôde, trocou o lado do relógio e foi logo dando as medidas do novo dedo anelar para a confecção do anel que ganhou junto com o título de mestre de palhaço tradicional. Adornou com dourado a peça que faltava para completar o artista e o homem.
Encontrei o palhaço Pinóquio disfarçado de Josué Pereira num dos corredores do Instituto de Medicina Integral, o Imip. Tinha um boneco de ventríloquo num saco de pano e a alegria de se ver completo. Há poucos meses, ele, que tinha perdido a mão esquerda num acidente com bacamarte, havia recebido uma “mão inteligente”. Era o que faltava para Pinóquio voltar de vez ao mundo do entretenimento infantil.
Essa e outras oito histórias de pessoas que passaram por cirurgias de amputação estão reunidas no especial Por inteiro, do Diario de Pernambuco, que chegou às bancas nesta segunda-feira. O trabalho também está disponível no diariode.pe/porinteiro.
Assino a reportagem sob a coordenação de Paulo Goethe e fotos de Débora Rosa, Blenda Souto Maior, Paulo Paiva e Allan Torres. A versão online tem as assinaturas de Jaíne Cintra (coordenação multimídia), Keziah Santos (design e desenvolvimento) e Eduardo Travassos (edição de imagens do vídeo).
Meu muito obrigada à generosidade dos entrevistados!