Em Foco 1109

A divulgação de novas pesquisas a respeito da corrida presidencial mostra que Dilma Rousseff e Marina Silva já trabalham para se posicionar diante do eleitor pensando já no segundo turno. Aécio Neves não consegue se manter na briga e publicamente não se diz disposto a transferir apoio para a socialista no caso da sua saída precoce. Mas tudo pode mudar. É o apresenta Vandeck Santiago para a sua análise do Em Foco publicada no Diario desta quinta-feira.

Acabou o favoritismo

Pesquisas mostram que cenário agora é de equilíbrio na disputa presidencial, com avanço lento de Dilma, dentro da margem de erro

Vandeck Santiago

Numa eleição é assim: tem mês que passa em um minuto e tem minuto que demora um mês para passar. Marina Silva (PSB) entrou na campanha para presidente e seu mês passou em um minuto – teve um crescimento vertiginoso em curto espaço de tempo e passou a ser vista como favorita para vencer a eleição, depois de aparecer em primeiro em simulações de segundo turno. Agora, seu crescimento estancou e a vantagem que tinha no segundo turno está encolhendo. Na pesquisa Datafolha, já foi de 10 pontos percentuais (50% a 40%, em 29 de agosto) e no levantamento de ontem ficou em quatro pontos, 47% a 43%, em um empate técnico. Os minutos de Marina começaram a demorar pra passar.
A constatação que se pode fazer, a partir dos números do Datafolha e das duas pesquisas anteriores que saíram esta semana (CNT/MDA e Vox Populi): Marina continua uma candidata competitiva, mas seu favoritismo acabou. O cenário agora é de equilíbrio, com um avanço lento mas gradual de Dilma.
Tudo indica que a candidata do PSB sentiu os golpes dos ataques desferidos pela campanha de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma – sobretudo desta, que é sua concorrente direta e elevou o tom nos últimos dias. Em seu caminho apareceu também a agenda negativa da cobertura da imprensa sobre o PSB (as questões do jatinho utilizado por Eduardo Campos e a citação do nome dele na delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa). Mesmo que isso não lhe tenha subtraído nenhum voto, tolhe os seus movimentos e a coloca na defensiva – notem, por exemplo, que sua campanha já não fala mais em “nova política”. Impede que, independentemente da veracidade das denúncias, ela se apresente como “diferente de tudo que está aí”.
A blindagem da qual Marina parecia revestida naquela fase do “mês passando em um minuto” dá sinais de que foi avariada. Resta ver a dimensão desta avaria, porque os ataques e as críticas vão continuar nesse final de campanha. Estão partindo até de Aécio, que começou inclusive a sinalizar com resistência a um apoio ao nome dela no segundo turno. “Quem vence, governa; quem perde, vai para a oposição”, disse o tucano ontem, depois de ironizar a proposta de Marina de, se eleita, governar com integrantes do PT e do PSDB. Nas críticas que tem feito nos últimos dias ele procura destacar que Dilma e Marina são personagens oriundos do mesmo espaço, o PT. Pode ser que as frases sejam apenas retórica, mas pode ser também que ele já esteja sinalizando uma postura de “independência” no segundo turno (posição idêntica a de Marina em 2010, quando não apoiou nenhum dos dois candidatos que foram para o segundo turno, José Serra e Dilma). Embora saibamos todos que independente da posição tomada por Aécio a maioria dos seus eleitores migrará para Marina, um apoio oficial sempre tem peso extra (entre outras coisas porque passa a ideia de “segurança” para a governabilidade).
Nesta reta final, a meta da campanha de Dilma é fazer com que Marina chegue ao segundo turno debilitada – situação em que, hipoteticamente, é possível tentar convencer os eleitores que estavam indecisos e passaram para Marina a refazerem o caminho e apoiarem a candidata do PT. Já para a campanha de Marina, a meta é encontrar o melhor meio de resistir/responder aos ataques, ampliar os apoios e entrar no segundo turno fortalecida.