Em Foco 2009

A região Nordeste é estratégica para quem pensa um dia em governar todo o Brasil. Por isso que os candidatos com maior poder de fogo tentam de todas as formas cortejar os habitantes dos nove estados que vão além da imagem de uma legião de carentes que precisam desesperadamente de benefícios sociais como o Bolsa Família. No Em Foco do Diario deste sábado, Vandeck Santiago apresenta como petistas e tucanos tentam se impor em relação a Marina nesta parte do mapa nacional.

O Nordeste de Aécio e Dilma

Tucano cresce em todas as regiões, menos no Norte e NE. Petista aumenta vantagem nacional no 1º turno, mas precisa ampliar votação no NE no 2º

Vandeck Santiago

Sabe qual foi o único candidato a presidente desta eleição a lançar um programa específico para o Nordeste? Foi Aécio Neves (PSDB). Comparado com o que prometeu Geraldo Alckmin, em 2006, e José Serra, em 2010, o programa de Aécio para a região é o mais ambicioso. Prevê o aumento do volume de recursos destinados para cá, conclusão da Transnordestina e da Transposição do Rio São Francisco, duplicação de BRs, investimentos em infraestrutura turística e em energia.
Acham pouco? Tem ainda o “compromisso” de elevar a renda média domiciliar per capita nordestina para pelo menos 70% da média nacional em uma década. A ampliação do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida e criação de outra “bolsa”: uma em que cada estudante do ensino médio receberá uma poupança de R$ 1 mil por ano, podendo sacá-la quando concluir o ciclo. Para algumas áreas, como a segurança, prevê investimentos acima da média nacional. Promete manter e ampliar o Prouni, o Fies e o Ciência Sem Fronteira, em todos priorizando o Nordeste. Ao todo, são 44 ações que, se efetivadas, representariam uma atenção superior ao que a região teve no governo Dilma.
O problema é que antes do “efetivadas” tem um “se”. De onde viria o dinheiro para tudo isso, ninguém sabe. E, como todo programa de candidato, este é antes de tudo uma “carta de intenções”. Promessas. Mas ver um candidato presidencial tucano aumentando o foco para projetos e ações no Nordeste já é um grande progresso.
O PSDB nacional nunca entendeu o Nordeste – o segundo colégio eleitoral, com cerca de 27% do eleitorado nacional (o primeiro é o Sudeste, com 43%). A política para a região nas duas gestões do presidente Fernando Henrique Cardoso foi contaminada pela relação que ele teve de manter com ACM – quando os tucanos nacionais pensavam no Nordeste, era sobretudo com ACM que tinham de lidar. Isso fica muito claro com a leitura do livro A arte da política: a história que vivi (Record, 2006), depoimento de FHC sobre seus anos no governo..
Uma das consequências disso é que o PSDB não conseguiu estabelecer conexão com os emergentes sociais – os milhões de pessoas que nos governos Lula e Dilma ascenderam socialmente, sobretudo no Nordeste. O resultado é que, eleição após eleição, o presidenciável tucano tem sido massacrado no Nordeste. Em 2006, Lula ficou com 77,14% e Alckmin, 22,80%. Em 2010, Dilma 70,58% e Serra, 29,42% (segundo turno, nos dois casos).
O senso comum interpreta esses números como sendo fruto da votação de “um eleitorado desinformado e refém do Bolsa Família”. É o tipo de raciocínio que desconsidera o principal: o sentimento de pessoas que se viram pela primeira vez alvos de políticas que lhes permitiram ascender socialmente, passar a alimentar-se, ganhar dignidade e poder sonhar com um futuro melhor para seus filhos.
Sem perceber isso, tucanos e seus aliados passam o período que antecede as eleições externando opiniões preconceituosas contra programas como o Bolsa Família – e quando chegam nas eleições, prometem ampliá-los.
Na eleição atual, um dos principais fatores que desde o início da corrida eleitoral tem puxado para baixo os índices de Aécio Neves é a votação no Nordeste. Mesmo agora, quando as duas últimas pesquisas (Ibope e Datafolha), mostram sua ascensão, ele patina exatamente no NE e no Norte. São as duas únicas regiões em que não avançou.
No Nordeste manteve-se com 8% e no Norte oscilou para baixo, de 10% para 9% (ele tem problemas também em MG e em SP, mas isso não o impede ficar na faixa dos 20% no Sudeste). A ascensão que ele teve nas últimas pesquisas, porém, já o retira da situação vexatória em que estava e o deixa mais forte para estabelecer acordos em uma eventual ida de Marina Silva para o 2º turno.
Enquanto isso, a pesquisa do Datafolha mostra que Dilma se mantém forte, abre vantagem sobre Marina e empata com ela no segundo turno. Na disputa entre as duas, minha impressão é que o Nordeste terá peso decisivo. Mas isso é outra história, para ser tratada em outro artigo.