Em Foco 2109

A maior empresa brasileira é também a nossa maior vergonha alheia. Quem investiu ou não seu dinheiro do FGTS em ações da Petrobras vê com horror como o patrimônio de toda uma nação vem sendo dilapidado por verdadeiras quadrilhas que se instalaram em posições de comando. Refinarias superfaturadas, propinas, jogo de interesses. Tema para Luce Pereira do Em Foco do Diario deste domingo.

O lamaçal e a joia da coroa

População espera varredura em todos os setores da Petrobras, que permita atacar a corrupção onde ela é mais ameaçadora

Luce Pereira

Nunca se sabe a quanto de profundidade a corrupção generalizada na política brasileira vai chegar. Quando o escândalo do mensalão parecia o último degrau da rapinagem em que se transformou o exercício da política no país, vem a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e coloca as mãos em um dos peixes mais graúdos do esquema estarrecedor de propinas, caixa dois de campanhas e lavagem de dinheiro na maior e mais rentável estatal brasileira, a Petrobras.
Espécie de “joia da coroa” – já que nenhuma terminou 2013 com lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, deduzidos de mais de R$ 104 bilhões em investimentos –, a empresa vem dando farto subsídio de que o lamaçal nas estatais pode ser sempre mais denso, isso enquanto o projeto de reforma política não passar de jogo para a plateia, encenado por quem está na parte mais alta da pirâmide do poder.
Diante dos monumentais e sucessivos assaltos aos cofres públicos, a tarefa de separar joio de trigo torna-se ainda mais espinhosa para o contribuinte, na hora de escolher seus representantes no Legislativo e no Executivo. Basta dizer que a sangria nas finanças da Petrobras aconteceu regularmente de 2004 a 2012, para animar festins e projetos políticos de ministros, governadores e ex, deputados federais, além de fazer a alegria de outras tantas eminentes figuras da República, cujos passos seguem sendo investigados pela PF.
O tamanho do rombo nas finanças da empresa ainda não teve o valor real dimensionado e não será tão cedo se depender da transparência nas contas da Casa, que nem portal para este fim possui. Fácil entender por quê. Entretanto, a disposição do agora delator premiado, Paulo Roberto Costa, para devolver US$ 23 milhões, fala por si só.
No presente, má gestão, má-fé e outros ingredientes indigestos – lembremo-nos da compra de Pasadena – somam-se para balançar os pilares da reputação da estatal mais festejada pelos brasileiros, tida como uma espécie de orgulho nacional por estar em 17 países e por estampar no cenário econômico números que fazem luzir os olhos de qualquer grande investidor. Todavia, apesar das dificuldades que enfrenta, com ações sofrendo constantes baixas no mercado, desde 2012, continua tendo perspectivas reluzentes de futuro, com a descoberta do pré-sal. Nos próximos 20 anos, ele vai render ao Brasil só em petróleo, a preços de hoje, US$ 15 milhões por dia. O problema serão sempre os flancos abertos a ataques contínuos de gente com apetite voraz por dinheiro público.
É fácil deduzir, portanto, que os riscos à saúde das finanças da companhia decorrem mais da falta de recursos e pulso para estancar a corrupção do que de perspectivas de mercado, pois, em 2010, o preço de uma ação chegou a alcançar R$ 52 (hoje, R$ 21). Diante disso, tanto quanto descobrir aonde levam exatamente os dutos recheados com petrodólares subtraídos dos cofres da estatal e os nomes dos bois, a população espera uma varredura em todos os setores dela, que permita atacar o flagelo onde ele é mais ameaçador. E, sem mais demora, a tão necessária reforma política para ajudar a eliminá-lo de vez.