Em Foco 0110

Tudo teve início em Nova York, em 1990. De lá para cá, a Corrida pela Cura tornou-se um movimento global que tonou cor de rosa o mês de outubro, chamando a atenção para o problema do câncer de mama. Em Pernambuco, a ciência e a tecnologia da informação estão fazendo sua parte, com a criação de um biossensor que poderá identificar a doença no seu estágio inicial. Uma boa notícia que se contrapõe à decisão do Ministério da Saúde de tirar das mulheres com menos de 49 anos o direito à realização da mamografia pelo SUS. Tema do Em Foco do Diario desta quarta-feira, por Luce Pereira.

O mundo hoje é rosa

Campanha de conscientização sobre o câncer de mama mostra avanços, mas alerta: doença ainda é maior inimiga das mulheres

Luce Pereira

Até uma das grifes de roupas mais caras do Brasil se inspirou na campanha mundial de combate ao câncer de mama e acaba de lançar a coleção Outubro rosa. Naturalmente, não para o público que mais necessita de conscientização sobre a doença, cuja incidência na população feminina é enorme, mas o gesto funciona como indicativo da expansão do número de apoios ao evento, que começa hoje. A propósito, pela importância, a agenda de artistas e craques da bola parece ter sempre lugar para a campanha que usa como símbolo o lacinho da cor.
Tanto assim, que o atacante Neymar, do Barcelona, gravou em plena Times Square, a mais movimentada avenida de Nova York, peça publicitária onde fala sobre a necessidade da prevenção, principal tecla do movimento. Nova York, mas não por acaso: foi lá que tudo começou, em 1990, com a Corrida pela Cura, e desde então o mundo nunca mais deixou de ouvir os recados transmitidos no primeiro dia do mês dez. Literalmente, questão de vida ou morte.
E é bom começar falando sobre esperança, o que não significa sugestão para se baixar a guarda. Muito pelo contrário. Pesquisas científicas avançam e têm dado sinais promissores de controle da doença, o que pode, nas próximas décadas, ajudar a colocá-la entre as menos letais. Exemplo bem perto dos pernambucanos ilustra o esforço e o resultado dele: o Laboratório de Imunopatologia, da UFPE, em parceria com o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.), está aperfeiçoando projeto de um biossensor que cabe na palma da mão e é capaz de, através de amostra de sangue, identificar a doença na fase precoce, quando ainda não há a ocorrência de tumor. O robozinho deve estar concluído em até dois anos, mas ainda neste mês será apresentado na iGEMCompetition 2014, em Boston (EUA).
Paralelamente, a ciência faz uma varredura completa nas hipóteses que poderiam contribuir para aumentar o número de ocorrências, como fatores ambientais e estilo de vida. Estudos mostram, por exemplo, mulheres que moram em grandes centros urbanos como mais vulneráveis à doença, caso das habitantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Porto Alegre.
Há frentes de investigação em muitas partes do mundo e nem a gastronomia escapa da lupa dos cientistas. Um grupo de pesquisadores espanhóis estuda a influência dos alimentos na formação de tumores de mama e garante que a dieta mediterrânea – à base de grãos, alho, cebola e azeite – reduz em até 30% os riscos de incidência da doença. Isso sem falar nos estudos sobre aquele que seria o fator mais importante – a genética. Gens já identificados poderiam ser determinantes, hipótese que, se confirmada, deve acelerar a produção de remédios.
No entanto, como nem tudo são flores no caminho deste gigantesco desafio, sobram críticas sobre a decisão do Ministério da Saúde de tirar de mulheres de até 49 anos o direito à realização da mamografia pelo SUS. A Portaria nº 1.253, editada em novembro de 2013, deixou furiosos o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Em nota, consideraram a medida absurda. Independentemente dos obstáculos, o Outubro Rosa segue insistindo em que o maior inimigo do combate é a desinformação. Aliás, em todos os sentidos.