Em Foco 2610

A campanha, pela forma em que se deu, deixará em seu rastro indisposições e tensionamentos que não serão eliminados só pelo resultado das urnas. É preciso introduzir na agenda de governo um discurso de conciliação – coisa que não se fez necessária após as cinco últimas disputas. Tema do Em Foco do Diario deste domingo, por Vandeck Santiago

Terceiro turno, não

Radicalização da campanha deixará tensionamentos que não serão eliminados pelo resultado das urnas. Novo presidente terá de apostar na conciliação

Vandeck Santiago

Quem vai ganhar, o povo decidirá. Mas uma coisa é certa: o primeiro desafio do vencedor será buscar encerrar o clima de conflagração que já se mostrava antes da eleição e radicalizou-se durante a campanha. Encerra-se hoje uma disputa que foi uma espécie de montanha-russa política, com uma série de reviravoltas e até uma tragédia no meio (a morte de Eduardo Campos). Além disso, marcada por ataques entre os principais candidatos. Um dos efeitos colaterais dos ataques foi o de inflamar ainda mais o choque de posições no ambiente político. O que se vê hoje, no dia da eleição, é um país dividido eleitoralmente de uma forma que não se via desde 1989 – com o detalhe que vivemos agora na era das redes sociais, que reverberam tudo numa dimensão inimaginável naquela época.
É certo que após a vitória de um dos candidatos a maioria do eleitorado passa a apoiar o vitorioso, e a torcer pelo seu sucesso. Mas no caso atual é possível prever que haverá núcleos duros trabalhando contra o outro desde o início. A campanha, pela forma em que se deu, deixará em seu rastro indisposições e tensionamentos que não serão eliminados só pelo resultado das urnas.
Um fator que ajudaria o trabalho do eleito seria vencer com uma boa vantagem. É certo que do ponto de vista do resultado tanto faz ganhar por um voto quanto por um milhão, mas uma vitória por uma diferença considerável cria condições políticas e sociais infinitamente mais favoráveis. Inibe reações, fortalece as posições do vencedor, atrai aliados. Nas cinco últimas eleições presidenciais o vencedor sempre ficou confortavelmente à frente do adversário.
A situação econômica do país, e os desdobramentos do caso Petrobras, também terão impacto no ambiente político do próximo governo. Julgo prudente ainda não esquecer as Jornadas de Junho de 2013, que apesar de não terem sido organizadas especificamente contra este ou aquele governo, foram um ruidoso indicativo da inquietação existente em largos setores da população. Quem pensou que tiraria proveito eleitoral das manifestações, enganou-se. Mas quem nos garante que aquela inquietação que levou milhões às ruas está serenada?
Apesar de tudo isso, não quero embarcar aqui naquela onda negativa que costuma balizar as análises sobre futuros governos. Quando você pesquisa as opiniões que antecederam a posse de governantes vê que é comum impressões pessimistas sobre o que está por vir. Aí entra o novo governante e os temores de que o pior estava logo ali acabam não se confirmando.
Seja Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB) o eleito, cada um deles com uma boa retaguarda partidária, terá condições de fazer o apaziguamento que o país precisa neste momento. Mas deverá ter habilidade para isso – habilidade para negociar com diversas forças (políticas e sociais). E introduzir na agenda de governo um discurso de conciliação – coisa que não se fez necessária após as cinco últimas disputas.