Em Foco 2510

Tão importante quanto saber ganhar é saber perder. É natural que depois de meses de disputa os ânimos estejam exaltados, sobretudo na reta final, sobretudo entre os seguidores dos candidatos. Neste momento é que é importante ter a cabeça fria para não cair na tentação de levar a campanha para o extremo do radicalismo. Tema do Em Foco do Diario do sábado, por Vandeck Santiago.

Perder ou ganhar

O combustível da liderança é a vitória, e ninguém se torna líder apenas perdendo. Mas a derrota muitas vezes é o degrau necessário
para o sucesso no futuro

Vandeck Santiago

Nunca consegui fazer, mas durante muito tempo acalentei a ideia de escrever uma reportagem só sobre derrotas e derrotados eleitorais. Nelas e na ação deles há mais ensinamentos do que supõe a nossa vã tradição de privilegiar apenas a perspectiva dos que ganham. Peguem a história dos nossos líderes: todos amargaram derrotas, às vezes uma sucessão delas. Não foi o fim do mundo para eles, nem lhes impediu uma carreira vitoriosa. Fernando Henrique Cardoso perdeu a eleição para prefeito de São Paulo, em 1985, e tornou-se presidente nove anos depois, por dois mandatos. Dia desses vi entrevista dele comentando o aspecto positivo daquela derrota: se tivesse vencido ali, talvez não tivesse sido presidente. Lula perdeu três eleições presidenciais consecutivas antes de chegar lá. Dia desses vi entrevista dele lembrando que foi melhor não ter vencido em 1989 (das três que perdeu, esta foi aquela em que esteve mais próximo de vencer), porque na conjuntura daquela época não teria podido implantar as mudanças que desejava.
Não vamos fazer aqui o elogio da derrota, pelo amor de Deus. Nunca vi ninguém tornar-se líder apenas perdendo, e o principal combustível da liderança continua sendo a vitória. Mas perder não torna ninguém menor do que era, por mais dura que seja a refrega. Em 1998 Miguel Arraes perdeu o governo para Jarbas Vasconcelos por mais de um milhão de votos. Em 2006 foi a vez de Jarbas perder por uma larga diferença, quase 2,9 milhões de votos, para Eduardo Campos, neto de Arraes. E a vida continuou.
A derrota tem pelo menos duas características ruins, além da própria perda em si. A primeira é a dor que provoca no candidato e em seus seguidores, proporcional à esperança de cada um, à ambição em relação ao pleito, ao esforço empreendido. Acompanho eleição há muito tempo e posso dizer a vocês que o clima numa campanha derrotada logo após o anúncio do resultado é idêntico ao de um funeral.
A segunda é que toda derrota é de longo prazo. Quem perde pode, em tese, disputar nova eleição dali a dois ou a quatro anos – mas nem sempre é garantido que o partido lhe dará a chance novamente, e disputar não significa ganhar, pode ser que perca novamente. Então, o futuro para o perdedor é sempre algo longínquo.
Numa coisa vitória e derrota se equivalem: é tão importante saber ganhar quanto saber perder. É natural que depois de meses de disputa os ânimos estejam exaltados, sobretudo na reta final, sobretudo entre os seguidores dos candidatos. Neste momento é que é importante ter a cabeça fria para não cair na tentação de levar a campanha para o extremo do radicalismo, porque uma eleição sempre deixa faturas a serem pagas nas próximas.
Amanhã o povo brasileiro sairá de casa para escolher entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Só um dos dois subirá como eleito a rampa do Palácio do Planalto em 2015. Mas quem perder não desaparecerá do mapa. Assim como a vitória, nenhuma derrota é para sempre.