Em Foco 0211

Dilma Rousseff, a candidata do PT e do governo, venceu Aécio com margem superior a 5 milhões de votos nos municípios com até 50 mil eleitores, os chamados grotões. Uma explicação para o resultado final que garantiu a continuidade em vez da mudança proposta pelos tucanos. Tema do Em Foco do Diario de domingo, por Silvia Bessa.

A migração do voto

Fenômeno da interiorização do PT no Brasil tem relação com tendência do povão em ser governista

A presidente Dilma Rousseff venceu nas cidades pequenas e Aécio Neves se saiu melhor nas maiores, revelam os resultados da eleição presidencial. A matemática dos votos dessa acirrada disputa confirma a mudança pela qual o eleitorado petista vem passando ao longo dos seus 34 anos de existência. Mas é preciso dizer também que, antes de ter se tornado o partido preferido de eleitores dos municípios menos populosos – e por consequência mais pobres – o PT passou a representar o governo. Foi depois da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2003, que a transformação do perfil do eleitor se consolidou.
A migração do PT é parecida com a do PSDB ou do MDB na década de 70, compara o cientista César Zucco, da Universidade de Princeton (EUA) e Fundação Getúlio Vargas (São Paulo). A oposição começa sempre na classe média, vai avançando até ganhar as eleições e, por último, passa a ser um partido do povão. “O povão é governista”, afirma Zucco, que é um dos maiores estudiosos do PT, do lulismo e das relações de programas sociais sobre eleições no Brasil. Isso porque os pobres, diz, sempre votam no governo porque a oposição encontra dificuldade em atingir esta população.
“As regiões brasileiras têm grande desigualdade econômica, por isso a expansão eleitoral de um partido para as novas áreas podem causar mudanças no perfil de seus simpatizantes sem que ocorra grande realinhamento socioeconômico”, afirmam Zucco e o cientista David Samuels (Universidade de Minnesota) em estudo intitulado “As raízes do petismo 1989-2010” do qual são coautores. “Para compreender mudanças e continuidade na evolução do petismo, deve-se prestar atenção à evolução geográfica do partido”.
Das teorias que li e ouvi nos últimos dias após a divulgação dos resultados, as de César Zucco estão entre as melhores. Segundo ele, que realizou pesquisas em parceria com o Banco Mundial, o eleitor usa uma espécie de sistema de recompensa para retribuir a quem está no governo. E esse sistema independe se o candidato é deste ou daquele partido. Se a vida do cidadão ou do parente próximo melhorou, se a economia vai bem, se está empregado, não há motivos para mudanças e o voto, então, acaba sendo em prol do candidato do governo. A análise leva em consideração variáveis econômicas diversas, que vão além do programa Bolsa Família e se relacionam com a pujança econômica, o Produto Interno Bruto e o Índice de Desenvolvimento Humano.
Lógico que questões complexas como a expansão de um partido por novas lavouras e as razões das escolhas eleitorais de uma nação não podem se resumir a apenas uma explicação. De toda forma, creio que a de Zucco seja algo que vale ser discutida. Sobretudo se levarmos em conta que em Dilma Rousseff, a candidata do PT e do governo, venceu Aécio com margem superior a 5 milhões de votos nos municípios com até 50 mil eleitores, os chamados grotões. Uma diferença que em muito se assemelha aos 3,4 milhões de votos que garantiram a reeleição dela.