Em Foco 0611

A oposição saiu da disputa presidencial bem mais forte do que antes. Seu desafio agora é manter-se em mobilização permanente, saindo do ambiente meramente institucional. Da parte dos vencedores, o esperado é que façam um bom governo nos quatro anos que foram conquistados pelo voto. Tema do Em Foco do Diario desta quinta-feira, por Vandeck Santiago

Oposição, Dilma e remédio

Presidente reeleita terá a oposição mais forte que os governos petistas já tiveram. Mas convém não esquecer o óbvio: é melhor enfrentar dificuldades como vitorioso do que não tê-las como derrotado

Vandeck Santiago

O pós-campanha que estamos vivendo não encontra paralelo com nenhum outro das últimas seis campanhas presidenciais – não foi assim nem mesmo em 1989, quando Collor derrotou Lula no segundo turno. Há pelo menos dois fatores que podem explicar isso: primeiro, a campanha em si, com toda a aspereza e agitação que teve; segundo, o fato de que o candidato derrotado esteve muito próximo da vitória – nenhum dos candidatos derrotados nas últimas seis eleições presidenciais chegou tão perto de colocar a mão na taça. É compreensivo que este candidato, Aécio Neves, saia fortalecido e torne-se, pelo menos num primeiro momento, o líder natural da oposição.
Também é normal que, nesse primeiro momento, o alarido da oposição ressoe mais alto. Quem ganhou procura manter a sobriedade para evitar levar galões de gasolina para um evento em que todos estão com fósforos acesos. Mas convém não esquecer o óbvio: a vitória cabe a quem vence. Por mais dificuldades que estejam em seu caminho no futuro, é melhor enfrentá-las como vitorioso do que observá-las sob aplausos como derrotado.
Não há dúvidas, porém, que a oposição saiu da disputa bem mais forte do que antes. Seu desafio agora é manter-se em mobilização permanente – algo assim como o PT fez após as derrotas para FHC, quando chegou até a criar um “gabinete paralelo”. Ganhará em ressonância e eficácia se sair do ambiente meramente institucional em que se meteu nos últimos 12 anos (de disputas restritas ao Congresso, CPIs, projetos, ocupação de cargos etc.) e for para as ruas, abraçar com entusiasmo a pauta das ruas.
Já disse isso antes e repito agora: a melhor coisa para Aécio agora seria viajar pelo Brasil mais pobre. Tomar um banho de pobreza – digo isso sem nenhum tom pejorativo para os pobres ou para Aécio. Não estou dizendo que ele seja insensível ao problema. Estou dizendo que precisa ter um contato direto com os pobres, visitá-los onde eles moram, conhecer suas realidades, apertar suas mãos, olhar nos seus olhos, ver as suas crianças. Nenhuma pessoa sensível fica a mesma depois de viagem profunda à pobreza.
Uma agenda por esse trajeto ajudaria também o PSDB a descolar-se de um agrupamento golpista e reacionário que, sem forças e sem povo para andar sozinho, pegou carona no partido. É um pessoal que, para o bem da democracia, merece ser isolado – e já está sendo, como atestam declarações contra eles feitas pelos tucanos Xico Graziano, Geraldo Alckmin e o próprio Aécio.
A oposição saiu mais forte do pleito, ok. Aécio Neves é nas condições de hoje o líder natural da oposição, ok. Isso significa que a marcha deles rumo ao poder é inexorável? Claro que não. O melhor remédio contra uma oposição e um oposicionista fortes continua sendo um bom governo. O povo deu à presidente Dilma mais quatro anos para isso. Veremos daqui até lá quem cumprirá melhor o seu papel.