No vídeo, o ator Amaro Vieira declamou Versos íntimos e A obsessão do sangue. Para o impresso, ele posou para as cinco fases do luto, da negação à aceitação. O repórter do Viver, Fellipe Torres, contou com este auxílio luxuoso para contar, em duas páginas do Diario de Pernambuco deste domingo, histórias de pessoas cheias de vida que convivem diariamente com a morte: um coveiro, um agente funerário, uma zeladora de jazigos, um fiscal de cemitério e um vendedor de flores. A frase anterior ficou deliberadamente tortuosa e ambígua. Tudo para ressaltar a importância de Augusto dos Anjos, poeta paraibano cujo trágico passamento, aos 30 anos de idade, completa um centenário na quarta-feira. Autor de um único livro – Eu – Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) continua tendo a sua obra estudada e revisitada, ao contrário dos muitos detratores da sua época. Um anjo de asas negras, para os íntimos.

Uma informação relevante: a ideia do ator para ilustrar o material foi do editor de arte, Christiano Mascaro.

Augusto dos Anjos

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos foto inteira