Em Foco 1211

A formação de uma “ação integrada” – envolvendo representantes da prefeitura e dos governos estadual e federal – para acabar com os problemas na orla de Olinda poderia ser uma boa notícia para quem queria ver aquele cenário como um cartão-postal. Na verdade, trata-se de um retrocesso, como destaca o Em Foco do Diario desta quarta-feira, por Luce Pereira.

Orla para inglês ver

Projetos para melhorar praias de Olinda não faltam, mas não saem do papel, como o anunciado em 2012. Agora surge nova proposta e a revitalização volta à estaca zero

Luce Pereira

As promessas em torno da revitalização da orla de Olinda são muitas e feitas sob aquele mesmo tom de euforia que marca as campanhas eleitorais. Palavras ao vento, que o povo tem acolhido com a mesma descrença de sempre, dado que sair da teoria para a prática não é bem uma característica dos gestores do município. Basta lembrar a carreata de 2012, que reuniu no mesmo veículo o candidato ao segundo mandato e atual prefeito, Renildo Calheiros, a ex-prefeita Luciana Santos e o ex-governador Eduardo Campos, quando então voltava-se ao tema com carga total. O anúncio de um megaprojeto para a área era a fórmula usada na tentativa de atrair eleitores mortos de vergonha ante a eterna visão de uma orla cheia de problemas, com ares de sem dono e sem perspectiva de vir a ter. Os candidatos venceram e, é óbvio, tudo continua exatamente do mesmo jeito.
Segundo o discurso de 2012, a orla de Olinda seria quase um paraíso, uma vez que nunca conseguiu reunir condições mínimas para funcionar como espaço de convivência e reforço à qualidade de vida no município. Teria, entre outras maravilhas, novos estacionamentos; ciclovia margeando toda a orla; redutores de velocidade; sinalização; recuperação e implantação de mobiliário; pista de cooper; quiosques com banheiros; nova iluminação; projeto paisagístico; drenagem e esgotamento sanitário; recomposição de diques; travessia de pedestres em nível; novos equipamentos de esporte e lazer; barreiras de contenção de mar.
À época, Calheiros havia anunciado aporte de R$ 23 milhões, dos quais R$ 20 milhões viriam do Ministério do Turismo e os outros R$ 3 milhões, do governo do estado, que seriam investidos em obras no trecho entre as praias de Bairro Novo e parte da de Casa Caiada até o fim de Rio Doce. “As ações vão resgatar a orla marítima como belíssima atração natural da Cidade Patrimônio”, dizia a propaganda.
Tivesse a promessa sido cumprida ao menos em parte, a população não seria surpreendida, ontem, com o anúncio de uma “ação integrada” para acabar com os problemas na orla, que só fazem crescer. Prefeitura e os governos estadual e federal estariam compondo uma força-tarefa, que agregaria ainda comerciantes, empresários, pescadores e frequentadores, inicialmente com o propósito de identificar e discutir as maiores necessidades do espaço. Isto, é claro, converge para a proposta de criação de um comitê, palavra na qual, geralmente, está embutida a intenção do poder público de alimentar (mais uma vez) a esperança dos moradores, enquanto dá mostra de interesse pela causa, eterna reivindicação da maioria.
Este, digamos, fórum para debater as prioridades para a orla começa hoje, reunindo órgãos da prefeitura, do governo estadual e interessados, devendo prosseguir em dezembro, quando o conteúdo de novos encontros vai subsidiar o surgimento de um Plano de Ação com medidas de curto, médio e longo prazo.
É óbvio que o leitor mais atento e indignado vai ficar absolutamente confuso com este monumental retorno à estaca zero, se perguntando como seria possível retroceder à fase de diagnóstico das necessidades, uma vez que todas elas foram identificadas naquele plano de revitalização do prefeito Renildo Calheiros. Além do mais, o senhor e a senhora interessados em ver a orla de Olinda merecer elogios sabem que planos de salvamento com essa estrutura, na Marim e em municípios vizinhos, foram jogos para a plateia, nem inglês tem mais paciência de ver. É a História que diz.