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As perspectivas para o novo ano são muitas. Mas, hoje, não nos cabe analisá-las. Um pouco de otimismo talvez nos baste. No Em Foco desse sábado Vandeck Santiago nos conta a história de um milionário excêntrico que gostava de ler jornais velhos e, de um experiente brasileiro que afirmou: “No Brasil não cabe pessimismo”.

2015, pior ou melhor?

O país estava prestes a acabar em 2002, dizia texto da época. Mas na mesma publicação um experiente brasileiro apontava em outra direção: “No Brasil não cabe pessimismo”

Vandeck Santiago

Era uma vez um milionário excêntrico que adorava ler jornal. Seu hábito, porém, tinha uma particularidade: ele só lia o jornal de cinco anos atrás. O exemplar do dia era entregue em sua casa, o mordomo o apanhava, o levava para o depósito onde estavam as edições antigas e pegava para o patrão o jornal do mesmo dia, só que de cinco anos atrás. O milionário justificava sua excentricidade dizendo que “se a informação for importante, terá valor ainda hoje”.

Lembro-me dessa história sempre que vou a algum consultório médico. Vocês sabem: consultório é o cemitério onde publicações antigas jazem insepultas, espalhadas em cestos de madeira, com páginas arrancadas e capas sobrevivendo heroicamente. Dia desses encontrei um exemplar de 15 de maio de 2002 da principal revista brasileira de economia – nada mais nada menos que 14 anos entre o momento em que foi publicada e o momento em que a li. Como diria aquele milionário, se a informação for importante, valerá a pena conhecê-la ainda hoje.

O texto que abria a edição era escancaradamente pessimista sobre o futuro imediato do Brasil. “As razões para a preocupação em relação ao risco-país estão aqui dentro mesmo. A verdade é que os fundamentos econômicos pioraram”, dizia, desfiando em seguida um rosário de maus presságios. Por algum motivo, quem faz previsões sobre cenários econômicos costuma ser pessimista (a menos quando a situação está tão boa, que o pessimismo só cabe lá no meio dos últimos parágrafos). Estamos agora, às vésperas de 2015, novamente sob uma expectativa de que o pior já vem ali, dobrando a esquina.

Não vem ao caso aqui entrar em discussões técnicas, porque isso exigiria muito mais espaço, diversidade de fontes especializadas e uma autoridade que este articulista sabe não ter. Mas se tem uma coisa que a experiência me ensinou é que, mesmo diante de um cenário negativo, isso não significa que a situação não possa ser modificada. O “pior que se vislumbra” lá na frente não é algo inevitável. A matéria citada, de maio de 2002, é emblemática disso, porque os anos que se seguiram no Brasil em nada corresponderam àquela previsão pessimista.

Uma coisa importante nessas previsões é sempre ver quem as está fazendo. Se o seu autor estiver dentro da política (participando diretamente ou esposando as mesmas ideias de quem está dentro), é claro que sua análise será sempre negativa em relação ao opositor. O que é a observação? É o observador e suas circunstâncias. Quem quer ver algo sempre de uma mesma forma, verá. Mas quem tiver os olhos abertos sem travas, pode ver outras possibilidades. Vejamos este exemplo da revista de 2002 que citei. Poderíamos ficar apenas na matéria pessimista. Mas bastou folheá-la um pouco mais para ver outra opinião, a de Antônio Ermírio de Morais. Ele dizia que em 1952 estivera na região de Petrolina. “A região era tão pobre que eu tinha de tomar banho de meias, na pensão em que fiquei hospedado – tamanha a sujeira. O chuveiro era uma lata de banha furada com pregos”, afirma ele no texto. “Aquilo era um deserto. Hoje, Petrolina é um jardim”. Agora vejam o arremate dele, fechando a matéria: “Isso era o Brasil. Não é mais. Sou um desses otimistas. Acho que no Brasil não cabe pessimismo. Os pessimistas deveriam comprar uma passagem, ir embora e nunca mais voltar”.

Estava certo o milionário excêntrico. Se a informação for importante, mesmo passados muitos anos da sua publicação pode ter importância para o presente.