Mais um ano se passou e as previsões para o trânsito recifense estão cada vez piores. O problema não se restringe a má qualidade da administração, aos buracos nas avenidas ou a falta de sinalização. Não. Os motoristas também tem sua grande parcela de culpa. Quando não respeitam a faixa, quando estacionam em lugar proibido, quando esquecem que a seta não é enfeite do veículo. Novo ano e com ele novas formas de fiscalização, ou seria punição?. E todo este imbróglio do nosso trânsito é o tema do Em Foco dessa terça-feira, por Luce Pereira.
Trânsito neurótico, motoristas nervosos
Recife conquistou, em 2014, o título de cidade com mais congestionamentos no Brasil e estimativa é de que o trânsito, no próximo ano, seja pedra ainda maior no sapato de motoristas
Luce Pereira
O texto de hoje poderia começar por um destes dois fatos: quando assumiu, o prefeito Geraldo Julio declarou que CTTU não existia – o que pressupunha, a partir do seu governo, uma marca de vigor e determinação para a Companhia – e um ano e meio depois da posse, no começo de junho passado, a pesquisa nacional de uma empresa de tráfego apontando o Recife como a primeira em congestionamentos no país. Qualquer um deles mostraria o óbvio: a promessa passou longe de ser cumprida e por causa disto a rotina dos motoristas, em 2015, continuará sinônimo de estresse e prejuízo, em função de horas perdidas naqueles conhecidos engarrafamentos.
No entanto – e como era de se esperar –, o quesito fiscalização mereceu alguns cuidados a mais, sobretudo pelos recursos investidos em equipamentos eletrônicos, aqueles que produzem reflexos imediatos no bolso de motoristas desatentos ou irresponsáveis. Só para ilustrar o fato, desde ontem a tarefa de educar foi substituída pela de punir, o que, neste caso, acaba surtindo efeito semelhante, pois, como diz o provérbio, “água mole em pedra dura …”
Dispositivos colocados em avenidas como a Governador Agamenon Magalhães, Conde da Boa Vista, Boa Viagem, Recife, Engenheiro Abdias de Carvalho e em ruas como a Professor Arnaldo Carneiro Leão passaram a cobrar a conta a quem excede a velocidade permitida, circula em áreas restritas, para sobre faixa de pedestre, avança semáforo ou faz giro proibido à esquerda, no intervalo das 6h às 22h. Entretanto, o valor das multas continua, como costumam dizer infratores de bem com a conta bancária, apenas “fazendo cócegas” no bolso, uma vez que vai de R$ 85,13 a R$ 574,62 – neste caso, culpa do Código Nacional de Trânsito.
O caso é que multas com poder de educar, em função do sabor muito amargo, são aplicadas em lugares do mundo onde o trânsito é extremamente bem gerenciado, a exemplo de Nova York. Parar em local proibido pode custar ao motorista US$ 2 mil a menos na conta bancária e não é preciso dizer que poucos decidem fazer vistas grossas ao aviso.
São muitas as evidências de que o órgão de transporte e trânsito do Recife continua deixando para trás necessidades básicas como dotar a cidade das faixas de pedestre necessárias. A atual gestão jamais conseguiu se aproximar da promessa de fazer 6 mil e, a bem da verdade, dá resposta incipiente em termos de sinalização horizontal e vertical. Mesmo em locais melhores sinalizados, como é a Rua dos Navegantes (Boa Viagem), motoristas desrespeitam constantemente locais de estacionamento proibido e a resposta da CTTU é sempre a mesma: houve fiscalização, que resultou em um número “x” de multas.
Mesmo o combate à prática de estacionar carros sobre calçadas leva a crer que o remédio da companhia para curar males crônicos tem o efeito de água com açúcar. Um passeio à noite por bairros como Setúbal pode facilmente comprovar isto. Mas nada para depor mais contra a capacidade da Companhia de dar resposta razoável a problemas básicos como o número de ruas de mão dupla com carros parados dos dois lados, verdadeiro teste de paciência que nem sempre resulta em compreensão por parte dos motoristas.
O ano de 2014 termina com o trânsito no Recife prometendo se revelar uma prova de nervos cada vez mais difícil de ser cumprida e sinalizando para possibilidade remota de a gentileza se transformar em regra básica de convivência entre os motoristas. Estima-se que as dúvidas quanto a isto seriam bem maiores, se a declaração do prefeito, no começo do mandato, fosse verdadeira. Não. As necessidade dizem que a CTTU ainda está por existir.